tag:blogger.com,1999:blog-363241512024-03-14T09:48:10.904-03:00Mídia SocialUnknownnoreply@blogger.comBlogger28125tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-54742311506295644932011-04-03T13:41:00.002-03:002011-04-03T13:41:56.893-03:00Trabalho escravo é encontrado na cadeia da Pernambucanas<span class="linha-fina"><em>Grupo de imigrantes sul-americanos submetidos a condições análogas à escravidão foi flagrado costurando blusas da coleção Outono-Inverno da Argonaut, marca jovem ligada às centenárias lojas Pernambucanas</em></span><br />
Por Bianca Pyl*<br />
<strong>São Paulo (SP)</strong> - A casa branca, localizada em uma rua tranquila da Zona Norte da capital paulista, não levantava suspeita. Dentro dela, no entanto, 16 pessoas vindas da Bolívia viviam e eram explorados em condições de escravidão contemporânea na fabricação de roupas.<br />
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<table align="right" border="0" style="height: 40px; width: 108px;"><tbody>
<tr><td><img border="0" src="http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/20110401casa_branca.jpg" /></td></tr>
<tr><td class="legenda">Fachada da casa onde a fiscalização encontrou o grupo de migrantes da Bolívia (Foto: SRTE/SP)</td></tr>
</tbody></table>O grupo costurava blusas da coleção Outono-Inverno da Argonaut, marca jovem da tradicional Pernambucanas, no momento em que auditores fiscais da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP) chegaram ao local. <br />
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Entre as vítimas, dois irmãos com 16 e 17 anos de idade e uma mulher com deficiência cognitiva. No local, a fiscalização constatou a degradação do ambiente, jornada exaustiva de trabalho e servidão por dívida, três traços que caracterizam o trabalho análogo ao de escravo -crime previsto no Art. 149 do Código Penal. As vítimas trabalham mais de 60 horas semanais para receber, em média, salário de R$ 400 mensais.<br />
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Descobriu-se que a encomenda das peças havia sido feita pela intermediária Dorbyn Fashion Ltda. - um entre os mais de 500 fornecedores da tradicional rede de lojas. O flagrante, registrado em 14 de março, motivou o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) a cobrar cerca de R$ 2,3 milhões da Pernambucanas, soma dos valores referentes a autuações com a notificação para recolhimento do Fundo de Garantia pelo Tempo de Serviço (FGTS). <br />
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A <strong>Repórter Brasil</strong> acompanhou a operação comandada pela SRTE/SP. O cenário encontrado de condições degradantes apresentava diversos riscos à saúde e segurança das vítimas. Não há janelas ou qualquer tipo de ventilação no espaço apertado e quente. A insalubridade, a precariedade e o improviso marcavam tanto os ambientes de trabalho quanto os de descanso. <br />
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<table align="right" border="0"><tbody>
<tr><td><img border="0" src="http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/20110401crianca.jpg" /></td></tr>
<tr><td class="legenda">Crianças conviviam com adultos em ambientes <br />
considerados insalubres (Foto: SRTE/SP)</td></tr>
</tbody></table>Alimentos eram armazenados de forma irregular: além da bandeja de iogurte dentro da gaveta, a inspeção se deparou com carnes estragadas. A sofrível estrutura não permitia nem banhos com água quente. <br />
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As jornadas de trabalho eram exaustivas, sem pagamento de horas extras. Os "salários" não alcançavam o salário mínimo e muito menos o piso da categoria. Também foram recolhidas anotações referentes a descontos irregulares, artifício comum dentro do esquema de servidão por dívida. As passagens de ônibus para o Brasil eram "pagas" com trabalho intenso de costura.<br />
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Na chegada da equipe de fiscalização, os trabalhadores deixaram transparecer a apreensão. "Medo de ter que ir embora sem nada", disse um deles. Um costureiro interrompe o depoimento do outro e poucos falam abertamente sobre as condições em que vivem. Mesmo assim, Joana** relatou que "quanto mais rápido se trabalha, mais se pode ganhar". Ela e seus companheiros de trabalho não tinham, contudo, acesso ao controle de sua produção e nem quanto receberia por peça. As jovens nunca viram as roupas que produzem na loja e nunca compraram nada nas lojas Pernambucanas. <br />
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A primeira pergunta que Joana** fez às autoridades presentes veio de chofre: "Eu posso estudar?". A jovem sempre alimentou o sonho de cursar - em sentido inverso percorrido por muitos brasileiros que estudam na Bolívia para se tornar médicos - uma faculdade de Medicina no Brasil.<br />
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Ela contou já ter feito o curso preparatório em seu país. A jovem chegara em São Paulo (SP) apenas um mês antes do flagrante. Um táxi teria sido encarregado de trazê-la da rodoviária diretamente até a discreta oficina. Na cidade de El Alto, vizinha à capital La Paz, Joana** consertava telefones celulares.<br />
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<table align="right" border="0"><tbody>
<tr><td><img border="0" src="http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/20110331peca3.jpg" /></td></tr>
<tr><td class="legenda">Etiqueta da Argonaut, marca de moda jovem das <br />
rede varejista Pernambucanas (Foto: BP)</td></tr>
</tbody></table>A investigação que chegou até o local começou em agosto do ano passado, quando outra oficina que empregava imigrantes sem documentos e em condições degradantes foi flagrada costurando vestidos Vanguard, marca feminina adulta da Pernambucanas - a <strong>Repórter Brasil</strong> também acompanhou esta ação e publicará, em breve, outra reportagem com mais detalhes da operação passada.<br />
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A partir de então, auditores e auditoras da SRTE/SP decidiram aprofundar as investigações para verificar a eventual repetição das ocorrências constatadas na confecção das peças da Vanguard em outras oficinas irregulares e para coletar subsídios adicionais para embasar as conclusões oficiais.<br />
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A fiscalização teve acesso ao pedido de compra do lote (2.748 peças) do "casaco longo moletom - tema Romance Gótico", da Argonaut, que os libertados costuravam no momento da ação. As Pernambucanas pagariam R$ 33,50 por cada peça à Dorbyn e venderia a mesma por R$ 79,90. O valor pago pela Dorbyn por cada blusa à oficina de costura era de R$ 4,30.<br />
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Leia a reportagem completa <a href="http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1874">aqui</a><br />
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<strong></strong>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-45915036096247321672011-03-26T14:04:00.000-03:002011-03-26T14:04:36.750-03:00Fiscalização liberta 16 de duas propriedades pecuáriasUm grupo de 16 pessoas, incluindo um adolescente de 12 anos, foi libertado de condições análogas à escravidão pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel, que reúne membros do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Polícia Federal (PF). A ação ocorreu em duas fazendas no Pará, na segunda quinzena de fevereiro. <br />
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Na Fazenda Santa Luzia, que está registrada em nome de Gustavo Araújo da Nóbrega, foram flagrados sete vítimas da escravidão contemporânea. A atividade desenvolvida na área, localizada em São Geraldo do Araguaia (PA), é a criação de gado bovino. Além dos libertados, havia mais cinco empregados com registro e morando em alojamentos em condições melhores, de acordo com Alexandre Elias, auditor fiscal que participou da ação.<br />
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Não havia água potável para consumo. A água consumida era retirada de um córrego, que também era utilizado pelos trabalhadores como ponto para banho. A alimentação não era garantida pelo empregador; as próprias vítimas eram obrigadas a comprar comida e preparar as refeições. Instalações sanitárias e energia elétrica também não eram oferecidas. <br />
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O alojamento era uma construção de madeira que apresentava frestas. Os buracos possibilitavam a entrada de animais peçonhentos, fator de risco para a segurança e saúde dos alojados. No galpão coletivo, havia homens e mulheres. Alguns estavam no local junto com suas famílias - o que não é permitido, conforme a Norma Regulamentadora 31 (NR 31)<br />
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A admissão dos empregados ocorreu entre outubro do ano passado e fevereiro deste ano. A maioria mora na região de São Geraldo do Araguaia (PA). Eles construíam cercas na fazenda, aplicavam produtos químicos (agrotóxicos) e limpavam a área que formaria o pasto.<br />
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Após assinar o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), proposto pelos procuradores do MPT que acompanharam a ação, o proprietário pagou cerca de R$ 15 mil em verbas rescisórias aos libertados. As irregularidades encontradas ensejaram a lavratura de 13 autos de infração.<br />
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Mais vítimas</strong><br />
Ainda com a operação em curso, a fiscalização recebeu mais uma denúncia de exploração de trabalho escravo. Na Fazenda Nossa Senhora de Fátima, que pertence à Cristiani de Jesus Mendonça e está localizada na zona rural de Novo Repartimento (PA), foram encontradas mais nove pessoas que estavam sendo submetidas a condições análogas à escravidão.<br />
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Ao todo, 11 trabalhadores estavam no local. Dois deles - a cozinheira e o vaqueiro - estavam em condições regulares de alojamento e não foram resgatados. Um adolescente de 12 anos também foi resgatado do local e recebeu as verbas trabalhistas rescisórias as quais tinha direito. Por ter menos de 18 anos, ele não pode receber, as três parcelas do Seguro-Desemprego para Trabalhador Resgatado, como os adultos.<br />
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Além disso, um idoso enfermo também foi afastado do trabalho. "Foi emitida a Comunicação de Acidente do Trabalho [CAT] e da estabilidade. Por isso, não foi requerido o Seguro-Desemprego", informou o auditor fiscal Alexandre. A fiscalização suspeita que o trabalhador ficou doente por conta da aplicação de agrotóxicos sem a devida proteção.<br />
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Os empregados exerciam as funções de limpeza do pasto, montagem de cerca e aplicação de agrotóxicos. Eles foram aliciados em Novo Repartimento (PA) mesmo e no município de Açailândia (MA). Os alojamentos estavam em condições precárias: as instalações sanitárias, por exemplo, estavam quebradas. Uma família inteira vivia junto com outros empregados.<br />
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A empregadora assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Cada trabalhador recebeu R$ 2,5 mil por dano moral individual. No total, Cristiani pagou mais de R$ 26 mil aos trabalhadores. Os representantes do MTE na operação emitiram 16 autos de infração.<br />
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A <strong>Repórter Brasil</strong> não conseguiu contactar os dois empregadores para colher a posição dos mesmos em relação às fiscalizações.<br />
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Por Bianca Pyl, para a<a href="http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1871"> Repórter Brasil</a>. <br />
<strong></strong>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-71650142635981570932011-03-16T16:50:00.001-03:002011-03-16T16:51:21.772-03:00Mão de obra escrava é explorada em fazenda de eucaliptoFiscalização da Gerência Regional do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em Barreiras (BA) libertou 21 trabalhadores, incluindo um adolescente de 17 anos, de condições análogas à escravidão. Eles trabalhavam por meses nessas condições na Fazenda Santa Rita 2, que fica no chamado Anel da Soja e desenvolve o cultivo de eucaliptos, em Barreiras (BA).<br />
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A operação teve início em 15 de fevereiro, após denúncia de uma das vítimas. O carro que levava a equipe, porém, acabou atolando e não foi possível prosseguir com a fiscalização. No dia seguinte, uma nova equipe conseguiu chegar ao local, mas não encontrou trabalhadores. <br />
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Uma testemunha que permaneceu na fazenda confirmou à comitiva de fiscalização que os trabalhadores tinham deixado a propriedade rural às 4h da manhã, em uma carreta, por ordem do dono da Fazenda Santa Rita 2, Alcindo José Dalcin. "Alguém viu o carro do Ministério do Trabalho no dia anterior. Então, deu tempo de tirar os trabalhadores do alojamento", avalia Edvaldo Santos da Rocha, auditor fiscal que coordenou a inspeção.<br />
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Foram encontrados seis cadernos com anotações das dívidas dos empregados. Além disso, o alojamento construído com telhas feitas de fibras de amianto - não só no teto, mas também as paredes eram feitas do mesmo material - e partes de alvenaria ainda estava de pé e com alguns objetos, dando sinal que o local havia realmente sido abandonado às pressas. As camas foram construídas com o próprio eucalipto derrubado no corte.<br />
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Com os indícios em mãos, a equipe da Gerência se deslocou até o perímetro urbano de Barreiras (BA), onde encontrou os 21 trabalhadores que confirmaram a situação em que viviam. "Eles estavam revoltados porque tinham recebido um valor irrisório para ficarem quietos", relata Edvaldo.<br />
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Ficou comprovada a servidão por dívida, que caracteriza o trabalho escravo contemporâneo. Os descontos nos salários eram muitos e variavam de acordo com a função. Operadores de motosserra pagavam pela manutenção do equipamento, incluindo o combustível. Carregadores da madeira já cortada até o caminhão custeavam as luvas e botas que usavam. <br />
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De acordo com depoimentos colhidos pela fiscalização, a alimentação fornecida era precária. Como complemento, as vítimas tinham de comprar mais comida na cantina, aumentando, assim, a dívida com o empregador. Não havia fornecimento algum de água potável.<br />
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Parte dos trabalhadores estava no local desde agosto do ano passado. Outros chegaram nos dois últimos meses de 2010 (novembro e dezembro) e em janeiro deste ano. Os empregados foram aliciados em municípios da região como Luís Eduardo Magalhães (BA), Barreiras (BA), Xique-Xique (BA), Mortará (BA), Teodoro Sampaio (BA) e também de Oito de São Domingos (GO).<br />
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A fiscalização apurou ainda que a fazenda flagrada fornece eucalipto para virar carvão vegetal para siderúrgicas de Luís Eduardo Magalhães (BA) e outras empresas que atuam na Região Oeste da Bahia.<br />
Ao todo, foram lavrados 12 autos de infração contra o propeitário Alcindo por conta das irregularidades encontradas. O empregador pagou R$ 55,9 mil referentes às verbas rescisórias. As vítimas também receberão três parcelas do Seguro Desemprego do Trabalhador Resgatado. O relatório será encaminhado ao Ministério Público do Trabalho (MPT).<br />
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A reportagem tentou contato para registrar a posição do dono da Fazenda Santa Rita 2, mas não conseguiu encontrá-lo.<br />
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Bianca Pyl, <a href="http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1867">Repórter Brasil </a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-59401810475709468452011-03-03T18:04:00.001-03:002011-03-03T18:04:45.409-03:00Indígenas são explorados em condições degradantesUm grupo de 16 índios foi encontrado em situação análoga à escravidão na Fazenda Vargem Grande, que pertence à Agropecuária Rio Miranda Ltda e fica em Miranda (MS). Os trabalhadores eram responsáveis pela limpeza de área destinada à formação de pastos para criação de gado bovino.<br />
Os indígenas são da etnia Terena e vivem na Aldeia Lalima, em Miranda (MS), a 10 km da propriedade. A ação ocorreu em 25 de janeiro deste ano e contou com a participação do Ministério Público do Trabalho (MPT), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e da Polícia Federal (PF). <br />
A equipe de fiscalização fazia uma operação de rotina para verificar as condições de trabalho em carvoarias, iniciada no último dia 24 de janeiro. Contudo, no meio do caminho que dava acesso a uma carvoaria que seria fiscalizada, os agentes públicos encontraram os 16 indígenas. As vítimas foram contratadas diretamente pela administradora da fazenda.<br />
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<table align="center" border="0"><tbody>
<tr><td><img border="0" src="http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/20110224alojamento.jpg" /></td></tr>
<tr><td class="legenda"><br />
</td></tr>
</tbody></table><br />
Os indígenas estavam há 15 dias no local e dormiam em barracos feitos de lona e cobertos com folha de bacuri (espécie de palha). Eles receberiam por produção e foram recrutados para trabalhar por 45 dias.<br />
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Não havia fornecimento de água potável às vítimas, que utilizavam água de um córrego para consumir e tomar banho. Não havia instalações sanitárias no local. Durante a execução dos serviços, os empregados não utilizavam nenhum equipamento de proteção individual (EPI). Os próprios trabalhadores preparavam as refeições em um fogão a lenha improvisado.<br />
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O local foi interditado. E, segundo Antonio Maria Parron, auditor fiscal do trabalho que coordena a fiscalização rural da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Mato Grosso do Sul (SRTE/MS), os próprios trabalhadores acabaram destruindo as barracas.<br />
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Tanto o auditor fiscal Antonio como o procurador do trabalho Rafael Salgado, que atua em Corumbá (MS) e também esteve na área, os trabalhadores manifestaram a intenção de seguir realizando o serviço. Diante disso, a opção, como explica Rafael, foi pela "empregabilidade". "Não é comum não realizar o resgate. Contudo, achamos que essa era a melhor solução para o caso, pois a aldeia fica muito próxima da fazenda e os indígenas poderiam voltar a trabalhar escondido no local", complementa Antonio. Segundo ele, as Carteiras de Trabalho e da Previdência Social (CTPS) dos 14 empregados que quiseram continuar trabalhando foram assinadas com data retroativa (início do trabalho) e a empresa contratante também providenciou um ônibus para transportar os empregados diariamente.<br />
<table align="center" border="0"><tbody>
<tr><td><img border="0" src="http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/20110224alojamento1.jpg" /></td></tr>
<tr><td class="legenda"><br />
</td></tr>
</tbody></table>A sócia-administradora da fazenda, Ana Paula Nunes da Cunha, firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no dia 31 de janeiro, na sede do MPT em Corumbá (MS), por meio do qual se compromete a pagar multa de R$ 5 mil por cláusula descumprida e por trabalhador prejudicado<br />
Se a empresa cumprir as cláusulas quanto ao oferecimento de água potável, áreas de vivência adequadas e EPIs, poderá funcionar sem a construção de novos alojamentos - desde que ofereça, sem custo para os empregados, condução ao local de trabalho e de volta à aldeia.<br />
Foram lavrados, ao todo, oito autos de infração em relação às irregularidades encontradas. Para checar in loco se as irregularidades foram sanadas, o MPT solicitou ao MTE que nova fiscalização ocorra em 30 dias.<br />
O proprietário Rubens Nunes da Cunha disse à reportagem que essa foi a primeira vez que tiveram problemas porque, antes do episódio em questão, nunca deixaram os trabalhadores alojados no empreendimento rural.<br />
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"A fazenda é nossa desde 1939. Nunca tivemos problemas. Nossos trabalhadores permanentes são registrados. E, quando precisávamos de temporário, fazíamos um contrato simples. Já regularizamos a situação", adiciona Rubens. "Vamos utilizar mais maquinário e menos recursos humanos".<br />
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*Matéria publicada na <a href="http://www.reporterbrasil.org.br/">Repórter Brasil</a>.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-51616451507801627482011-02-24T14:20:00.001-03:002011-02-24T14:21:19.550-03:00Escravidão em ferrovia concedida à ALL: detalhes e repercussão<i>Por Maurício Hashizume, da <a href="http://www.reporterbrasil.org.br/index.php">Repórter Brasil</a><br />
</i><br />
<b>São Paulo (SP)</b> - O <a href="http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1828">flagrante de trabalho escravo na manutenção da Ferrovia Santos-Mairinque</a>, administrada pela América Latina Logística (ALL), ganhou destaque em dezembro último por dois motivos principais: pela prisão em flagrante do dono de empreiteira menor subcontratada para fazer o serviço e por ter ocorrido nas cercanias da maior cidade do país.<br />
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O caso reserva, porém, outros traços e pontos complementares que não vieram à tona na época do ocorrido. Novos detalhes - e o posterior comportamento das empresas e agentes envolvidos - são apresentados nesta reportagem especial da <b>Repórter Brasil</b>, que acompanhou todos os lances da operação.<br />
<table align="center" border="0"><tbody>
<tr><td><img border="0" src="http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/20110223esc_ferr01.JPG" /></td></tr>
<tr><td class="legenda">Isolados no meio da Serra do Mar, alojamentos lotados não tinham estrutura adequada (Foto: MH)</td></tr>
</tbody></table>Ao final da fiscalização, 51 trabalhadores foram libertados pela fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP), em ação conjunta com a Polícia Civil e com a Secretaria Estadual de Justiça e Defesa da Cidadania (SJDC). Todos atuavam na manutenção de trilhos e dormentes em trecho da ferrovia concedida à ALL que atravessa o Parque Estadual da Serra do Mar, entre Embu Guaçu (SP) e Santos (SP).<br />
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O quadro de aliciamento, retenção de documentos, cerceamento da liberdade e condições insalubres e desumanas (marcada pelos alojamentos precários e isolados em contêineres no meio da mata) - pintado pelo delegado Laerte Marzagão na entrevista coletiva convocada no dia da ação - ganha uma dimensão mais concreta nos depoimentos dos trabalhadores.<br />
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"A única lei que vale mesmo aqui é a de que o trem não pode parar", declarou uma das vítimas à <b>Repórter Brasil</b>. O próprio recrutamento das vítimas - boa parte delas vindas de Santo Amaro da Purificação (BA), atraídas, sob ardilosas promessas, por um intermediário da M S Teixeira (quarteirizada da ALL, que contratara inicialmente a Prumo Engenharia) que recebera R$ 50 por cada trabalhador arregimentado - teria sido solicitado, com urgência, para suprir a lacuna deixada por uma outra subempreiteira que perdera espaço na prestação de serviço. Esta última foi preterida por causa da verificação de tombamentos de composições em trechos por ela conservados, sem qualquer relação com as aviltantes condições trabalhistas oferecidas.<br />
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"O nosso trabalho garantia o funcionamento de uma das principais vias de circulação de mercadorias que movimenta o Brasil. Mas, assim como nas guerras, só os ´sargentos´ são lembrados. Nós, que estamos na ponta fazendo o nosso serviço, não somos valorizados", completou outro trabalhador. Os libertados recordaram de episódios em que, para recolocar vagões descarrilados de volta para os trilhos, fizeram intenso esforço físico desde a tarde de um dia até a manhã do outro, sem pausa ou refeição.<br />
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Nos dias normais de trabalho, conservadores de vias e auxiliares começavam os trabalhos às 7h e seguiam até às 17h, de domingo a domingo, com supostos descansos de oito dias a cada três semanas (22 dias). Se quisessem tirar as folgas asseguradas por lei, contudo, eles eram obrigados a desocupar os alojamentos mantidos pelos empregadores, como confirma outra vítima libertada. "Fui pedir a folga e disseram assim: ´Se quiser, tire. Mas fora do alojamento´. Eu não tinha onde ficar fora do alojamento. Nem o que comer. A única opção era continuar trabalhando".<br />
<table align="right" border="0"><tbody>
<tr><td><img border="0" src="http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/20110223esc_ferr02.jpg" /></td></tr>
<tr><td class="legenda">Equipamentos sanitários irregulares e instalação <br />
elétrica que oferecia até risco de morte (MH) </td></tr>
</tbody></table>O requinte do aliciamento em Santo Amaro da Purificação (BA) incluiu uma viagem de avião da capital baiana Salvador (BA) até Campinas (SP). Um preposto foi buscar diferentes grupos que chegaram ao longo de agosto de 2010 no Aeroporto de Viracopos. O combinado era de que, cumprida a tarefa, eles também retornariam em transporte aéreo. Além dos migrantes baianos, havia entre os 51 libertados moradores de São Vicente (SP), Embu Guaçu (SP) e outras localidades da região de cumprimento do serviço.<br />
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Quando chegaram ao local efetivo de trabalho, deram-se conta de que a situação seria outra. A promessa inicial de salário era de R$ 1 mil, com carteira assinada, por um período seguido de 22 dias de trabalho, seguido de oito dias de descanso. Ao final de mais de dois meses, alguns tinham recebido apenas R$ 680. A insatisfação aumentou em novembro do ano passado. Parte do grupo desistiu de permanecer no local e acabou voltando para a Bahia por conta própria. Outra parte foi deslocada da Serra do Mar para alojamento mantido no centro de Embu Guaçu (SP). Foi lá que a fiscalização encontrou as primeiras vítimas da escravidão contemporânea. <br />
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<b>Testemunhos</b><br />
Na chegada, a equipe de fiscalização foi recebida com uma enxurrada de relatos e informações sobre as situações extremas que tiveram de enfrentar na manutenção da Ferrovia Santos-Mairinque. O tempo médio gasto entre o pátio de alojamentos instalados na mata - próximo à antiga estação de Engenheiro Ferraz, no km 75 da ferrovia - até o meio urbano era de cerca de 4h, por causa das frequentes paradas do trem no caminho.<br />
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Muitos relataram ter passado frio e fome. Quando chegaram aos contêineres, alguns dormiram no chão. Para saciar a fome, tiveram de coletar banana verde no entorno para comer. No início, antes da estruturação da cozinha, marmitas chegavam com comida azeda nos alojamentos de Ferraz e de Pai Mathias, outro ponto isolado de abrigo. O banho só deixou de ser gelado na semana anterior à fiscalização, quando foi ligado um gerador movido a diesel. Antes disso, a água era esquentada na lata em fogueiras.<br />
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Para completar a situação, testemunharam agressões físicas de Marcioir Silveira Teixeira, dono da M S Teixeira, contra um dos trabalhadores. Era comum, conforme os testemunhos colhidos, que o próprio respondesse queixas com advertências enfáticas de que era "amigo" de policiais locais. Ameaças derivadas da exposição de facões e armas de fogo também foram registradas. Aliás, de acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, Marcioir permanece preso.<br />
<table align="right" border="0"><tbody>
<tr><td> <img border="0" src="http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/20110223esc_ferr03.jpg" /></td></tr>
<tr><td class="legenda">Trabalhadores atuavam na manutenção de trechos<br />
da linha férrea que liga Santos a Mairinque (MH)</td></tr>
</tbody></table>A falta de assistência em casos de adoecimento também motivou muitas reclamações. A dificuldade para o atendimento médico foi realçada no discurso dos trabalhadores. No próprio momento da fiscalização, um dos empregados, encarregado da preparar as refeições, sofria seguidas convulsões, foi socorrido e levado ao Hospital Geral do Grajaú.<br />
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Houve testemunhos também de ocasiões em que, perante a exigência de atestado médico por parte do empregador, trabalhadores se submeteram a consultas em alguns postos de saúde da região, mas não encontraram médicos dispostos a assinar documentos dessa natureza. Durante à noite, houve até quem permanecesse trancado nos contêineres de metal que, dentro ou fora, não respeitavam nenhum padrão estabelecido.<br />
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Depois do primeiro contato, a fiscalização seguiu para verificar os alojamentos no meio da Serra do Mar, não sem alguma dificuldade. No alojamento de Ferraz, constatou que a situação descrita pelos trabalhadores era de fato de extrema gravidade. As instalações elétricas não tinham nenhum aterramento. Todo o ambiente oferecia diversos riscos de acidentes, inclusive com risco de morte - seja por queda ou por descarga elétrica. A água consumida e os banheiros utilizados eram inadequados. Não estavam sendo seguidas normas de higiene e de ventilação, sem contar a exposição aos insetos. Por tudo isso, o referido alojamento foi interditado durante a operação.<br />
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O custo da comida era descontado; até a parte destinada ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) que cabe ao contratante era cobrada à parte. Os próprios empregados recolheram tijolos da estações desativadas para fazer um "piso" na área comum para evitar o contato permanente com a lama. Havia ainda os extenuantes deslocamentos de ida e volta dos trabalhadores, à pé, para as frentes de trabalho no curso da linha, carregando pesadas ferramentas - máquinas, enxadas, marretas, picaretas etc. De acordo com a fiscalização, esses deslocamentos eram de até 14 km. Os resgatados foram acolhidos pela SJDC e depois retornaram para os municípios de origem.<br />
<br />
<b>ALL</b><br />
No primeiro e único comunicado que divulgou sobre o caso até o momento, a principal concessionária envolvida foi categórica em declarar publicamente que o "evento que envolveu a contratação irregular de trabalhadores não contou com a cooperação ou concordância da ALL".<br />
<br />
Depoimentos dados por trabalhadores e pelos próprios funcionários da ALL à Polícia Civil, à fiscalização trabalhista e à <b>Repórter Brasil</b> desmentem essa alegação. Empregados da companhia tinham pleno conhecimento, acompanhavam cotidianamente e até supervisionavam as atividades dos conservadores de via submetidos a condições análogas à escravidão. No alojamento de Pai Mathias, um representante fixo da ALL foi acusado de impedir diretamente o direito de ir e vir dos trabalhadores, impedindo o acesso aos trens, com recursos de truculência e hostilidade.<br />
<table align="right" border="0"><tbody>
<tr><td><img border="0" src="http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/20110223esc_ferr05.jpg" /></td></tr>
<tr><td class="legenda">Em nota, ALL negou cooperação ou concordância;<br />
apurações desmentem alegação da empresa (MH)</td></tr>
</tbody></table>Vários libertados relataram ter recebido regularmente instruções diretas de funcionários da ALL, inclusive com cobrança de metas de produtividade por parte de representantes diretos da concessionária.<br />
<br />
"O que mais chamou a atenção da equipe foi o nível de degradação a que eram submetidos os trabalhadores, aliado à absoluto descaso da empresa ALL. A empresa mantinha profissionais de alto nível nos locais fiscalizados, sendo beneficiária direta da mão de obra desses trabalhadores. Mesmo assim, não tomou qualquer medida para evitar que essa situação permanecesse", reforça o auditor fiscal do trabalho Luis Alexandre de Faria, que atuou como um dos coordenadores da operação pela SRTE/SP.<br />
<br />
A conexão entre as envolvidas é dissecada no relatório de fiscalização. "Pelo contexto probatório e resultado da auditoria trabalhista efetuada, a empresa ALL - América Latina Logística Malha Paulista S.A deve ser diretamente responsabilizada pelas graves situações apontadas; as relações empresariais mantidas pela ALL com intermediadoras de mão de obra, como a Prumo Engenharia Ltda. ou M S Teixeira & Cia Ltda, prestam-se tão somente ao mascaramento do vínculo empregatício direto com a beneficiária final, e devem ser repudiadas e desconsideradas pelo Poder Público".<br />
<br />
Ao todo, foram 33 autos de infração endereçados à ALL, que se apresenta como a maior empresa de logística com base ferroviária da América Latina. O valor bruto das rescisões de trabalho, também dirigido à concessionária, somou R$ 392,6 mil. A ALL, porém, "se recusou a assumir a responsabilidade pelos contratos de trabalho: as anotações e pagamentos foram feitos em nome da empresa intermediária Prumo Engenharia Ltda.", segue trecho do relatório de fiscalização trabalhista, que foi encaminhado para outros órgãos públicos como o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2); a Procuradoria Regional do Trabalho da 2ª Região (PRT-2) - Ofício de Osasco (SP); e o Ministério Público Federal de São Paulo (MPF/SP).<br />
<br />
Contactada, a ALL não respondeu as questões referentes ao caso formuladas pela <b>Repórter Brasil</b>, enviadas há mais de um mês (18 de janeiro). Uma das justificativas apresentadas foi a de que a longa espera por respostas estava relacionada com a dedicação da empresa à organização de sua convenção anual, que acabou sendo realizada de 27 a 29 de janeiro em um hotel de luxo em Florianópólis (SC). A decoração do evento - pontuado por premiações e apresentações de resultados de 2010 - foi inspirada no <i>Cirque du Soleil</i> e contou com palestra do ex-jogador Zico e presença da ex-participante do reality show televisivo Big Brother Brasil (BBB), Priscila Pires.<br />
<table align="center" border="0"><tbody>
<tr><td><img border="0" src="http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/20110223esc_ferr06.jpg" /></td></tr>
<tr><td class="legenda">Grupo de libertados durante a operação aguarda transporte na Estação Evangelista de Souza (MH)</td></tr>
</tbody></table><br />
<b>Prumo</b>A <a href="http://www.reporterbrasil.org.br/clipping.php?id=1406">Promotoria de Justiça de Embu Guaçu (SP) ofereceu acusação formal contra Marcioir</a>, da M S Teixeira, por redução de trabalhadores à condição análoga à escravidão. A denúncia da promotora Maria Gabriela Prado Manssur à Justiça, datada de 30 de dezembro de 2010, inclui ainda Joel da Silva Santos, gerente de Recursos Humanos da M S Teixeira, e Harley de Paula Silva, gerente regional de obras da Prumo Engenharia, que foi contratada pela ALL e subcontratou a MS Teixeira para a manutenção de ferrovias.<br />
<br />
Em nota enviada à <b>Repórter Brasil</b>, a Prumo Engenharia atribui o ocorrido principalmente à qualidade insatisfatória da subsidiária M S Teixeira - mesmo que a nota da ALL tenha classificado a Prumo como "responsável" pelos trabalhadores posteriormente libertados.<br />
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Fernando Vaz, que assina o comunicado como sócio-gerente da Prumo, "reitera sua comunicação de repúdio e indignação com relação às denúncias de trabalho escravo e aliciamento de trabalhadores em face da M S Teixeira e seu proprietário Marcioir Teixeira Silveira nas frentes de serviço de manutenção da via permanente do trecho entre Evangelista e Paratinga".<br />
<br />
A Prumo enfatiza ainda os mais de 30 anos de atuação no setor "sem máculas na sua conduta" e explica que a "contratação da empresa M S Teixeira foi feita para reforçar o ritmo dos serviços" relativos ao objeto do contrato firmado com a ALL "a partir de agosto de 2010". Nas palavras do gerente da construtora, a M S Teixeira teve o seu contrato rescindido no início de novembro "por não ter apresentado o padrão de qualidade exigido". A subcontratação, completou a Prumo, não é prática constante da empresa.<br />
<br />
Mesmo assim, a Prumo sustenta que, após a blitz, "prestou todo apoio e assistência aos ex-trabalhadores da M S Teixeira". A empresa, que mantém sua sede em Formiga (MG), admite ter arcado com as verbas rescisórias devidas, "por se tratar de responsável subsidiária na esfera trabalhista no que se refere aos direitos sonegados, sendo esta a sua única responsabilidade pelo lamentável fato em questão". Funcionário da Prumo garantiu à <b>Repórter Brasil</b>, porém, que técnicos de segurança de trabalho tinham vistoriado os alojamentos problemáticos um mês antes da interdição.<br />
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<table align="right" border="0"><tbody>
<tr><td><img border="0" src="http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/20110223esc_ferr04.jpg" /></td></tr>
<tr><td class="legenda">Tentativa inócua de se afastar do caso provoca<br />
troca de acusações entre envolvidas (MH)</td></tr>
</tbody></table>Sobre a acusação contra o gerente Harley, a Prumo Engenharia afirma que "providenciará sua defesa em momento oportuno". Em depoimento gravado no ato do flagrante, Joel, que é gerente da M S Teixeira e também foi denunciado pelo Ministério Público Estadual, fez afirmações que colidem com o posicionamento da construtora. <br />
<br />
De acordo com Joel, o acerto entre as duas empresas previa que o alojamento e a alimentação dos empregados ficariam a cargo da Prumo, enquanto a M S Teixeira trataria da contratação e pagamento dos salários, sob monitoramento direto e sistemático do pessoal interno da ALL. O aliciamento de trabalhadores na Bahia, segundo o mesmo, teria sido realizado a pedido e com autorização da Prumo. Apesar do rompimento anunciado para o início de novembro, nenhum trabalhador havia sido devidamente remunerado pelos serviços prestados à M S Teixeira e contratado formalmente pela Prumo no momento da fiscalização.<br />
<br />
Na versão de Joel, a Prumo é que vinha descumprindo o contrato entre as partes, com sucessivos atrasos de pagamento. Para ele, o acordo firmado não era o mais adequado do ponto de vista jurídico e estava sendo revisado por advogados. Ele concorda que os empregados deslocados para a manutenção da ferrovia nos alojamentos Ferraz e Pai Mathias estavam em situação precária. Do ponto de vista do gerente da M S Teixeira, a responsabilidade era compartilhada entre as duas empresas<br />
<br />
Em depoimento exclusivo à <b>Repórter Brasil</b>, Marcioir confirmou ainda já ter trabalhado como quarteirizado para a ALL em pelo menos outras duas oportunidades anteriores. Há alguns anos, ele atuara no mesmo regime de subcontratação na manutenção de rodovias concedidas à ALL no Rio Grande do Sul. A partir dessa experiência, ele montou a empresa M S Teixeira com outros ex-conservadores gaúchos. Em 2009, a empresa conseguira o seu primeiro contrato em São Paulo, para fazer a manutenção de outro segmento da mesma ferrovia mais próximo ao Porto de Santos (SP).<br />
<br />
A troca de acusações não poupa ninguém, mas, em certa medida, as próprias envolvidas deixam escapar alguns dos motivos por trás do flagrante na ferrovia. As afirmações dos representantes da M S Teixeira corroboram a inexistência de idoneidade da própria para prestar serviços do gênero. O pagamento dos salários dos trabalhadores registrados pela M S Teixeira dependia inexoravelmente do repasse anterior da Prumo. <br />
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Quanto à Prumo, a frase em letras negras gravada no uniforme laranja (<i>foto acima</i>) usado por um dos libertados ajuda a resumir aquilo que a direção teima em refutar: "Você é responsável pela sua segurança".<br />
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No tocante à ALL - que entrou com recurso no Tribunal Superior do Trabalho (TST) contra ação que pede o fim da conservação terceirizada das vias pemanentes e para a qual a reportagem abriu espaço de manifestação -, a incisiva auto-afirmação também acaba sendo bastante explicativa. O lema escolhido para acompanhar a conhecida marca da companhia não dá margem para muita hesitação: "A gente nunca para".Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-90260524661272302022011-02-12T15:36:00.000-02:002011-02-12T15:36:13.994-02:00A maior hidrelétrica do mundo insiste em negar dívida com indígenas<div style="text-align: justify;"><b> </b></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg38pRtiYNoNDRvOVsQfKGzegI_i0D022IFCohrz5Ohf-1moLTtLeX4sXygl8mA-gLA61EyXd3KytOwpOaO1O4NJTKrAY9n4wE2hNdqsvDSWrK6Le94y_HX5ah93wi1e9gMShSA/s1600/1.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg38pRtiYNoNDRvOVsQfKGzegI_i0D022IFCohrz5Ohf-1moLTtLeX4sXygl8mA-gLA61EyXd3KytOwpOaO1O4NJTKrAY9n4wE2hNdqsvDSWrK6Le94y_HX5ah93wi1e9gMShSA/s320/1.JPG" width="320" /></a></div><b>Território Guarani, Brasil.</b> A maior hidrelétrica do mundo em termos de geração de energia, Itaipu, localizada no rio Paraná, entre o Brasil e o Paraguai, completa, em 2012, 30 anos de funcionamento. Apesar da imensa riqueza que a usina já gerou nessas três décadas, a empresa que a administra foi incapaz, até hoje, de saldar a dívida que gerou com a remoção de dezenas de comunidades indígenas guarani para a formação de seu lago.</div><div style="text-align: justify;">Itaipu, tem um nome em lingua guarani, “pedra que canta”, e foi construída em pleno território indígena, em lugar onde, há séculos, os cronistas e historiadores registram a presença de grupos guarani. Estima-se que quase 100 comunidades guarani – falantes dos dialetos nhandeva (conhecidos como Avá-Guarani) e mbya – sofreram o impacto da instalação da usina, e a imensa maioria delas até hoje não recebeu compensação adequada pelos territórios tradicionais que perderam: mais de 80 mil hectares, só do lado brasileiro, segundo cálculos de estudiosos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">José (nome fictício), 52, era só um jovem quando a área onde morava, Oco’y Jacutinga, foi atingida pelo lago formado por Itaipu, sendo obrigado a mudar radicalmente um estilo de vida que, hoje, só sobrevive em suas memórias: “A gente tinha mato suficiente para caçar, rio para pescar, espaço para nossa cultura”. Depois que surgiu Itaipu, tudo mudou. Em 1982, ele foi morar na recém-criada aldeia avá-guarani do Oco’y, na beira do lago de Itaipu, em São Miguel do Iguaçu (PR). Poucos anos depois, com a rápida superlotação daqueles 251 hectares, participou do movimento que pressionou pela constituição de nova aldeia guarani. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Em 1997, surgiu o Tekoha Añetete, terra indígena localizada em Diamante D’Oeste (PR). Eram 1.744 hectares comprados por Itaipu. Ainda assim, era pouca terra. Tanto que, 11 anos depois, ele partiu com 17 famílias aliadas para fundar nova aldeia, a Vy’a Renda Poty, ocupação de 109 hectares não regularizada, próxima a Santa Helena (PR). </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">De acordo com informações dos indígenas, colhidas pela antropóloga Malu Brant, na região de Itaipu, do lado brasileiro, existiam ao menos 32 aldeias guarani. Elas desapareceram entre 1940 e 1982, período entre a criação do Parque Nacional do Iguaçu (1939) e o alagamento para formação do lago Itaipu (1982).</div><div style="text-align: justify;">Pelo menos nove aldeias foram alagadas pela usina, de acordo com o levantamento da antropóloga, que iniciou pesquisa na região por solicitação da Justiça Federal de Foz do Iguaçu. O depoimento de dona Maria (nome fictício) repassa todo esse drama. Ela conta ter nascido em 1924, na mesma área onde morava seu Pedro antes da inundação, Oco’y Jacutinga. Nos anos 40, Narcisa presenciou um massacre. “Eu e minha família assistimos escondidos. Eu vi, eu vi, mataram tudo! Abriam a barriga com facão e jogavam depois nas Cataratas (do Iguaçu)”, contou ela a Malu. Nessa época, destaca a antropóloga, os Guarani da região do Parque Nacional do Iguaçu foram expulsos pelo antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF).</div><div style="text-align: justify;"><br />
De nova localidade, na mesma região, a família de Maria foi expulsa em 1962 – também pelo IBDF – e seguiu para formar outra aldeia, junto a Foz do Iguaçu, de onde foram novamente afastados, dessa vez pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), segundo lembra (Malu explica que foi para promover o assentamento de colonos retirados da área do parque). Em 1981, Maria voltou à área onde nascera, que, por fim, foi alagada por Itaipu. Acabou indo morar no Oco’y, onde tiveram de se espremer dezenas de famílias.</div><div style="text-align: justify;">A terra de Oco’y tem 7 km de comprimento por 240 metros de largura e os primeiros 100 metros a partir das bordas internas do lago são de usufruto de Itaipu, só os 140 metros restantes são destinados à população indígena. A aldeia é constituída de quatro lotes doados a quatro famílias indígenas. Isso quando, segundo os depoimentos, havia mais de 70 famílias em Oco’y Jacutinga, área próxima dali que foi alagada.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ali, além de tudo, os Guarani disputam espaço com colonos. Os agrotóxicos usados pelos agricultores no entorno da aldeia poluem a água do lago, muitas vezes utilizada pelos indígenas. Além disso, Oco’y é o único local do estado do Paraná com incidência de malária. O controle da doença é feito por meio de borrifamento de um produto tóxico, que provoca mais contaminação. A comunidade sobrevive com cestas básicas doadas por Itaipu.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><b>Añetete</b></div><div style="text-align: justify;">A superpopulação em Oco’y, um dos únicos espaços disponíveis na região para refúgio dos índios depois que foi formado o lago da usina, gerou movimentos por novas demarcações de terra em poucos anos, como se viu na história de José. Mesmo a criação de Añetete, em 1997, não resolveu a questão de terras.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Além disso, ali, o acesso dos indígenas às habitações, desde a entrada, permanência, saída de famílias e a própria condução interna da exploração da terra, tudo é controlado por representantes de Itaipu, segundo a antropóloga. Os Guarani trabalham nas plantações comunitárias e recebem como pagamento cestas básicas. “Isso mantém uma relação de dependência com a usina”, denuncia. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Na página da Itaipu na internet, uma frase destoa do que é relatado pelos indígenas: “Itaipu age para que os índios alcancem a independência econômica”. Segundo depoimentos colhidos pela antropóloga, Itaipu também estipula o número máximo de cinco novas famílias por ano que podem vir morar no Añetete. “Isso não ocorre em qualquer outro aldeamento guarani no Brasil, tratando-se de intervenção incorreta, arbitrária”.</div><div style="text-align: justify;">Após novas pressões dos Guarani, em 2004, Itaipu adquiriu uma área com 509,5 hectares, a atual aldeia de Itamarã, também em Diamante D’Oeste (PR), onde foram morar 40 famílias. A aldeia Vy’a Renda Poty, onde vive José, está localizada em área pertencente ao Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). O local fica próximo à antiga aldeia de Dois Irmãos, uma das que hoje se encontram submersas pelas águas da Itaipu. “Essas retomadas de terra demonstram a urgente necessidade de ampliação territorial. É uma dívida histórica que o Estado brasileiro continua se negando a reconhecer”, relata Paulo Porto Borges, da Operação Amazônia Nativa (Opan), que acompanha os Guarani no oeste do Paraná desde 2000.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">José afirma que Itaipu não presta nenhuma assistência em Vy’a Renda Poty. “Mesmo sendo culpa deles a nossa perda de território. A empresa diz que, se voltarmos para a aldeia Añetete, vamos receber cesta básica, só que não tem espaço lá. Eles tiraram nossas terras e agora precisamos deles até para se alimentar, não queremos isso.”</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Para Malu Brant, a Funai foi omissa em todo o período histórico. Atualmente há três áreas em fase de identificação antropológica na região. “É necessário haver o reconhecimento das terras que eles perderam por conta desses megaprojetos e a identificação de áreas de acordo com o que eles tinham”, analisa.</div><div style="text-align: justify;">Do lado paraguaio, o problema com Itaipu se arrasta até hoje também. Mario Rivarola, da Organização Nacional dos Aborígenes Independentes (Onai), relata que foram 60 as comunidades desalojadas por Itaipu nos anos de 1970. “Faziam promessas, diziam que iam reassentar e indenizar. Tudo ficou na teoria. Os que não aceitavam sair eram levados por policiais e militares”, diz. “O que mais dói é que obrigaram-nos a sair, mas algumas áreas não foram alagadas. Hoje estão ocupadas por fazendas.” </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><b>Nhande reko</b></div><div style="text-align: justify;">Os Guarani do Paraná integram uma extensa rede social, que começa no norte da Argentina e só termina nas aldeias do Espírito Santo. Deslocando-se através de fronteiras que não foram estabelecidas por eles, esses indígenas reivindicam dos governos dos países que hoje os abrigam o reconhecimento dessa condição transnacional.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Em fevereiro deste ano, aconteceu no Tekoha Añetete o 1º Encontro dos Povos Guarani da América do Sul, organizado pelo Ministério da Cultura do Brasil em parceria com o governo paraguaio e Itaipu. O reconhecimento, pelo Mercosul, dessa cidadania guarani que ultrapassa as fronteiras foi uma das principais reivindicações formuladas durante o evento. Convenientemente para as instituições envolvidas, o documento final do evento não fez menção à questão da terra.</div><div style="text-align: justify;">Mas é justamente esse traço cultural guarani, sua gigantesca rede social, que Itaipu utiliza para justificar a superlotação nas aldeias, conforme texto no site da empresa na internet: “As migrações fazem parte da cultura avá-guarani. Esses índios costumam migrar frequentemente, mas sempre retornam aos locais de origem. (…) Isso contribuiu para o retorno daquelas famílias que, durante os anos 60 e 70, haviam migrado para o Paraguai. O retorno resultou em superpopulação na reserva do Oco’y”. Só faltou explicar que a migração para o Paraguai foi resultado de esbulho realizado pelo próprio governo brasileiro.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Procurado pela reportagem, Jair Kotz, superintendente de Gestão Ambiental de Itaipu, afirmou: “Itaipu considera que a comunidade, representada pela Funai e com o acompanhamento de várias outras entidades, foi reassentada, pelo Incra, em área de tamanho adequado, muito maior do que a até então ocupada. Posteriormente, a Itaipu, sempre de forma consensual com todos os envolvidos, adquiriu área ainda maior para a comunidade indígena, área escolhida por ela, somando-a àquela que já fora destinada originalmente”. Como se viu nos depoimentos aqui citados, a tal “forma consensual” com que Itaipu negociou as compensações territoriais não foi tão abrangente assim.</div><br />
<i>*Reportagem feita por Bianca Pyl para a edição especial da Caros Amigos de outubro de 2010 e publicada também no site <a href="http://desinformemonos.org/2010/12/a-maior-hidreletrica-do-mundo-insiste-em-negar-divida-com-indigenas/">Desinformemónos </a></i>. Confira a versão em espanhol da matéria:<i> <a href="http://desinformemonos.org/2010/12/la-mayor-hidroelectrica-del-mundo-niega-su-deuda-con-los-guaranis/">La mayor hidroeléctrica del mundo niega su deuda con los guaranís</a></i>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-85472232504204188592011-02-09T16:37:00.000-02:002011-02-09T16:37:06.099-02:00Fazendeiro cobrava até lona de barraco dos escravizadosO grupo móvel de fiscalização e combate ao trabalho escravo libertou 20 pessoas que eram obrigadas a pagar até pela lona que cobria o barraco improvisado como alojamento. As vítimas foram encontradas no fim de janeiro em São João do Carú (MA), nas Fazendas Asa Branca I e II. Entre os escravizados, havia três adolescentes com 16 anos de idade e duas mulheres.<br />
<br />
Todos foram aliciados em Paragominas (PA) por um "gato" (intermediário na contratação). Eles faziam a "limpeza" da área, retirando arbustos e ervas daninhas, para expansão da atividade pecuária.<br />
<br />
Os empregados eram obrigados a viver em dois barracos cobertos por lona preta e folhas de bananeiras que eles mesmo construíram. A estrutura dos barracos era de madeira roliça, facilmente encontrada na mata nativa. "O custo era zero para o empregador, já que a madeira e as folhas de palmeira ainda podem ser colhidas gratuitamente", explica Klinger Moreira, auditor fiscal do trabalho que coordenou a operação do grupo móvel. <br />
<br />
O metro de lona preta custa R$ 0,50. Mas nem com essa despesa o empregador Francisco Costa da Silva arcou. Ele pretendia descontar o valor do material dos vencimentos dos próprios empregados.<br />
<br />
Para preparar a comida, os trabalhadores construíram um fogão de barro, para ser alimentado a lenha. O objeto dividia espaço com as redes. Não havia instalações sanitárias e as vítimas utilizavam as imediações dos barracos como banheiro. As pessoas se banhavam em um igarapé. Para garantir um mínimo de privacidade, o grupo fincou palhas de palmeira para cercar o espaço em volta do local que permitia acesso às águas.<br />
<br />
As roupas de cama utilizadas, compara Klinger, era semelhante às de moradores de rua. "Eram sujas e esfarradas. Mesmo assim, eram as únicas que eles dispunham para se proteger à noite. Ressalto que essas roupas de cama foram trazidas de suas casas", conta o auditor fiscal.<br />
<br />
O empregador cobrava também pela péssima comida que fornecia aos empregados. Não havia local adequado para armazenar os alimentos. A água consumida vinha de caçambas cavadas diretamente na terra ou em córregos próximos ao acampamento. Nas frentes de trabalho, não havia água potável, banheiro e local para refeições. <br />
<br />
Nenhum trabalhador possuía registro em Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS). O empregador pagou mais de R$ 63 mil referentes à rescisão do contrato de trabalho. As vítimas retornaram ao Pará, tendo suas viagens custeadas pelo empregador. Parte dos libertados estava na propriedade há cerca de um mês, desde 26 dezembro.<br />
<br />
Os 17 adultos terão direito às três parcelas do Seguro Desemprego para Trabalhador Resgatado. Foram lavrados 12 autos de infração. O procurador do trabalho Marcos Rosa também participou da ação.<br />
<br />
A <strong>Repórter Brasil</strong> não conseguiu localizar o fazendeiro para comentar o caso.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-76194055091483677242011-02-09T14:26:00.004-02:002011-02-09T14:36:30.022-02:00Atlas revira entranhas do trabalho escravoApreendidos durante as fiscalizações, os cadernos com anotações de débitos servem normalmente para comprovar sistemas de servidão por dívidas existentes nos casos de trabalho escravo contemporâneo. Não foi diferente na operação trabalhista que libertou 27 pessoas submetidas à escravidão na Fazenda Sagrisa, em Codó (MA), que pertence ao Grupo Maratá, com sede em Lagarto (SE). Em novembro de 2005, os auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que estiveram no local encontraram oito cadernos na cantina da propriedade no interior do Maranhão.<br />
<br />
Além dos registros de dívidas relativas a itens de alimentação, de higiene e até de ferramentas de trabalho, um dos cadernos trazia uma anotação diferente: "um dia de deixação de comer". Desesperado com a situação de endividamento a qual estava submetido, um dos trabalhadores preferiu cortar a própria alimentação para tentar "poupar" recursos e minimizar o tamanho da mordida dos "descontos" no fim do mês.<br />
<br />
Entre os libertados, quatro eram adolescentes com idade inferior a 18 anos e uma criança de apenas 11 anos foi também flagrada trabalhando no local. Em depoimento, uma das vítimas declarou que nada recebeu pelo trabalho na Fazenda Sagrisa. Os próprios administradores da propriedade fiscalizada afirmaram na ocasião que os filhos do empresário José Augusto Vieira, dono do Grupo Maratá, administram parte do patrimônio do conglomerado, mas o próprio José Augusto "mantém o controle das decisões".<br />
<br />
À Justiça, o "gato" (aliciador de mão de obra) Raimundo Nonato Pereira chegou ainda a confirmar que, quando necessário, comprava ferramentas aos trabalhadores e depois descontava dos salários dos mesmos, ratificando a prática de servidão por dívida. Segundo Raimundo, a água dos empregados realmente era a mesma utilizada pelo gado.<br />
<br />
Mesmo com todas essas evidências colhidas pela fiscalização e compiladas pelo Ministério Público Federal do Maranhão (MPF/MA), o fazendeiro José Augusto Vieira e o "gato" Raimundo, conhecido como "Anão", foram absolvidos da acusação de crime de trabalho escravo. De acordo com a sentença da 1a Vara Federal de São Luís (MA) (confira <a href="http://processual-ma.trf1.gov.br/Processos/ProcessosSecaoOra/ConsProcSecaopro.php?SECAO=MA&proc=200537000064975">histórico do processo</a>) publicada em 2009, "a instrução processual não logrou demonstrar com grau de certeza necessária para estribar uma sentença condenatória".<br />
<br />
Para a Justiça Federal do Maranhão, "os depoimentos prestados em juízo pelos fiscais [que atuaram nas libertações da Sagrisa] também não apresentam aptidão para darem ensejo a uma condenação, pois apenas confirmam o teor do relatório, o qual não é suficiente para demonstrar a efetiva existência das supostas condições aviltantes de trabalhos".<br />
<br />
Uma das justificativas complementares apresentadas pelo Judiciário para absolver o empresário José Augusto foi a extensão do grupo. "O fazendeiro reside no estado de Sergipe e tem mais de doze fazendas no Maranhão o que torna quase impossível a sua presença constante em todas elas", salienta a sentença. O Grupo Maratá mantém empreendimentos nos setores agropecuário (pecuária, sucos, café e tabaco), alimentício, de embalagens e também de educação (Faculdade e Colégio José Augusto Vieira). Só a Fazenda Sagrisa tem cerca de 20 mil hectares.<br />
<br />
O MPF/MA recorreu da decisão. Para o órgão, "a decisão de primeiro grau desprezou completamente a palavra das vítimas, que é essencial nessa espécie de delito, bem como a palavra dos fiscais que confirmaram em juízo todo um teor das autuações que lavaram". Por conta da operação, José Augusto Vieira entrou para a chamada <a href="http://www.reporterbrasil.com.br/pacto/listasuja/log">"lista suja" do trabalho escravo</a>, cadastro de infratores mantido pelo MTE, em dezembro de 2006. O nome do empresário do Grupo Maratá permaneceu até dezembro de 2007, quando o Judiciário concedeu liminar judicial para a retirada da relação.<br />
<br />
<table align="left" border="0"><tbody>
<tr><td><img border="0" src="http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/20110131atlascdvdh_capa.jpg" /></td></tr>
<tr><td class="legenda">Atlas Político-Jurídico reúne dados e informações <br />
acerca da realidade da escravidão (Reprodução)</td></tr>
</tbody></table>Realidades, como a acima retratada, fazem parte do Atlas Político-Jurídico do Trabalho Escravo Contemporâneo no Maranhão, elaborado pelo <a href="http://www.cdvdhacai.org.br/">Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos (CDVDH) de Açailândia (MA)</a>. O documento foi lançado na última quinta-feira (27), como parte dos diversos eventos da <a href="http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1845">Semana Nacional</a> de mobilizações, por ocasião do Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo (28 de janeiro).<br />
<br />
Inédito, o Atlas traz sete capítulos que partem do histórico da região sudoeste do Maranhão até avaliações críticas das políticas direcionadas ao combate à escravidão. A obra contém estudos específicos sobre as vítimas, sobre os empregadores proprietários das terras e sobre os "gatos" intermediários. Há ainda análises das fiscalizações, de processos em andamento no Poder Judiciário e de conexões existentes entre a escravidão e o poder político.<br />
<br />
O Atlas compila dados e informações (que constam no acervo do CDVDH e que foram captadas junto a diferentes órgãos públicos), bem como depoimentos de vítimas da escravidão contemporânea que procuraram a entidade. <br />
<br />
"Nós entendemos que esse material não deve estar restrito aos militantes de direitos humanos. É preciso divulgar, expor que o Judiciário, o Legislativo e o Executivo deixam a desejar no combate ao trabalho escravo", explica Nonato Masson, advogado do CDVDH e um dos autores do trabalho.<br />
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A comparação entre a quantidade de trabalhadores libertados do trabalho escravo nos últimos anos com o baixíssimo número de condenações criminais aparece com destaque no documento. O Atlas Político-Jurídico radiografou apenas 11 sentenças judiciais, com apenas 4 condenações, sendo duas de "prestação de serviço à comunidade". "Essa comparação ilustra bem a morosidade da Justiça. E quando há sentença, ela não é executada porque tramita em primeiro grau", emenda Nonato. A radiografia da escravidão identificou ainda diversas ameaças aos defensores de direitos humanos e descaso em relação às medidas judiciais por parte dos réus. As vítimas do trabalho escravo, por seu turno, relataram ter medo de se apresentar aos tribunais para confirmar seus depoimentos, em função das ameaças e violências que sofreram.<br />
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"A conclusão que chegamos é que não há política de Estado e de governo que de fato mude a vida dos peões. Não há um enfrentamento concreto", opina o advogado do CDVDH. "O Judiciário precisa ser mais rápido e efetivo na eliminação de entraves judiciais para a aplicação da lei com mais celeridade, por se tratar de um crime contra a humanidade; o Executivo precisa ser mais operacional no sentido de fazer avançar a construção de políticas publicas fazendo com que seus planos ganhem efetividade prática. Estes não podem ser apenas intenções políticas", aponta o documento.<br />
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<b>Outros casos</b>O Atlas Político-Jurídico também analisa o caso da Fazenda Agrossera, localizada em São Raimundo das Mangabeiras (MA), de propriedade de Pedro Augusto Ticianel. A área foi fiscalizada em outubro de 2005, pelo MTE, pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), além de representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Polícia Federal (PF). <br />
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Na ocasião, foram flagrados 103 trabalhadores em condições análogas à escravidão. Com base no relatório da fiscalização, o MPF/MA apresentou denúncia contra seis responsáveis, entre os quais o proprietário Pedro Augusto Ticianel, além de gerentes e aliciadores. A denúncia foi recebida pela Justiça Federal em 16 de maio de 2006. <br />
O Tribunal Regional Federal da 1a Região (TRF-1) declarou a Justiça Estadual como sendo competente para processar e julgar o crime. Posteriormente o Supremo Tribunal Federal (STF) reformou essa decisão e fixou a competência novamente para a Justiça Federal. Ao retornar para a Justiça Federal, foi prolatada a sentença de absolvição sumária, ou seja, sem que qualquer testemunha fosse ouvida em juízo. <br />
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A decisão se fundamenta na existência de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) relativo a questões trabalhistas - assinado por parte dos réus para com o MPT antes da lavratura dos autos de infração originados da fiscalização. A Agropecuária e Industrial Serra Grande (Agroserra) foi <a href="http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1247">incluída pela primeira vez na "lista suja" em dezembro de 2007</a>. Desde então, foi retirada, incluída e retirada novamente por decisão liminar. A <a href="http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1615">última delas, que mantém a empresa fora da lista, foi emitida em julho de 2009</a>.<br />
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Também fazem parte do Atlas Político-Jurídico os processos que envolvem o juiz estadual <a href="http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1791">Marcelo Testa Baldochi</a> e <a href="http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1780">Miguel Rezende,</a> que já foi flagrado inúmeras vezes utilizando mão de obra escrava. Apenas na Fazenda Zonga - que fica em Bom Jardim (MA), dentro da Reserva Biológica (Rebio) de Gurupi -, que pertence a Miguel, foram cinco flagrantes de escravidão: 52 libertados em 1996, 32 em 1997, 69 em 2001, 13 em 2003 e, mais 45 em 2010.<br />
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Atualmente, Miguel, que já beira dos 80 anos de idade, responde, na Justiça, pelo crime de exploração de pessoas em condições análogas à escravidão na Fazenda Rezende, em Senador La Rocque (MA), flagrado em 2001. Outros dois crimes cometidos na mesma propriedade (em 1996 e 1997) prescreveram. Em 2003, auditores encontraram novamente 65 vítimas de escravidão na mesma área. O pecuarista Miguel de Souza Rezende já fez parte por três vezes da "lista suja" do trabalho escravo.<br />
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Marcelo Testa Baldochi, juiz estadual, também já foi <a href="http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1481">relacionado na "lista suja", na atualização de dezembro de 2008</a>. A inspeção que gerou a inclusão do juiz no cadastro foi realizada na Fazenda Pôr do Sol, de propriedade do magistrado, em setembro de 2007. No local, o grupo móvel encontrou 25 pessoas - entre elas um adolescente de 15 anos - em condições análogas à escravidão. De acordo com os trabalhadores, o próprio juiz orientou o grupo no sentido de declarar à fiscalização que estavam no local apenas como posseiros no plantio de roça, numa tentativa de descaracterizar o crime.<br />
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O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) teve de intervir, por solicitação do Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Maranhão (Sindjus-MA), para que o Tribunal de Justiça do Maranhão (TJ-MA) instaure um processo disciplinar que apure a conduta do integrante da instituição. Por duas vezes (2007 e 2009), o TJ-MA rejeitara instalar processo contra juiz.<br />
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O juiz também é acusado de <a href="http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1630">comandar pessoalmente um despejo violento de famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)</a> que ocupavam justamente a Fazenda Pôr do Sol. O Ministério Público Estadual (MPE) denunciou inclusive a <a href="http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1486">interferência de Marcelo Testa Baldochi em um dos processos de escravidão que envolve Miguel de Souza Rezende</a>.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-67176517626264545142008-03-10T11:22:00.002-03:002008-03-10T11:36:41.726-03:00Como morrer mais cedo em São Paulo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibGhbYnRJ8xavieVUZyblCm8OJe0-NMSiMyk1CoEFUsF1a-G49t0lekpebPF9iHPdFrAvf3PqAsXnkSM2_LPjiyLnmGtYPmyY8jdRTaPoUDZgttHiV6g4ge-7orK7rxLqid-LQ5g/s1600-h/artemissaoveicular+1.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibGhbYnRJ8xavieVUZyblCm8OJe0-NMSiMyk1CoEFUsF1a-G49t0lekpebPF9iHPdFrAvf3PqAsXnkSM2_LPjiyLnmGtYPmyY8jdRTaPoUDZgttHiV6g4ge-7orK7rxLqid-LQ5g/s320/artemissaoveicular+1.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5176121512211892770" border="0" /></a><br /> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;"> </p><b>Por Gilberto Dimenstein</b><br /><br /><p class="western" style="margin-bottom: 0cm; color: rgb(102, 102, 102); font-weight: bold; text-align: center;"></p><blockquote style="color: rgb(153, 153, 153); font-weight: bold;">Por dia, a poluição mata prematuramente 12 pessoas e produz 200 vítimas de pneumonia e outras doenças</blockquote><p></p>CHEFE DO LABORATÓRIO DE POLUIÇÃO DA USP , integrante do comitê científico da Faculdade de Saúde Pública da Universidade Harvard e professor titular de patologia, Paulo Saldiva chegou ao topo de sua carreira, mas sente-se um médico frustrado: "Faço diagnósticos, mas não consigo curar", lamenta. <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Ele e seu grupo de 30 pesquisadores da USP diagnosticam que, por dia, na cidade de São Paulo, a poluição mata prematuramente 12 pessoas e produz 200 vítimas de pneumonia, infarto do miocárdio, asma, otite, entre outras doenças. É o suficiente para reduzir em um ano a expectativa de vida do paulistano.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">As invisíveis partículas que saem dos escapamentos dos automóveis mataram, em 2007, o dobro- isso mesmo, caro leitor, o dobro -do que os assassinatos. Se imaginarmos um estádio superlotado do Morumbi, teremos uma idéia do que representam anualmente as 200 pessoas que todos os dias adoecem por causa da poluição.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">A frustração de Saldiva é que, apesar de seu diagnóstico baseado em pesquisas científicas, a poluição aumenta e mata cada vez mais gente, mas não gera tanta mobilização como a violência, a maior preocupação dos paulistanos.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">As duas últimas semanas serviram para aumentar a frustração de Saldiva -um médico que, para dar o exemplo, se locomove pela cidade montado em uma bicicleta.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">De 2006 a 2007, como noticiou a Folha, aumentou em 54% o número de vezes em que a qualidade do ar estava imprópria. Nesse mesmo período, a taxa de homicídios na cidade de São Paulo caiu 22%. Desde 1990, a redução foi de 73%.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Nas duas últimas semanas, foram noticiados recordes de congestionamento, inclusive em períodos razoavelmente sossegados para os padrões locais. "Não vemos os políticos dispostos a enfrentar os donos de automóveis", critica o médico. Politicamente, isso é explicável.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Convivem na cidade 11 milhões de habitantes e 6 milhões de automóveis, 800 dos quais licenciados a cada 24 horas. Não é necessário ser um matemático para ver que a imensa maioria dos eleitores está motorizada.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">São agradados, no geral, com pontes, viadutos, alargamento de ruas e avenidas, levados à ilusão de que a circulação vai melhorar. As obras rendem votos (e, quem sabe, ajuda em caixa de campanha), mas não soluções. Tanto não rendem soluções que já existem cálculos sobre o dia e a hora em que a cidade vai, literalmente, parar.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Existe luz no fim do túnel? Existe. Mas ainda está muito difícil enxergá-la justamente por causa do excesso de fumaça.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Os crescentes incômodos com o trânsito e com a ecologia, traduzidos nas horas paradas e nas mortes e doenças, abrem espaço para que, nesta eleição municipal, se discuta até que ponto vale a pena apoiar medidas impopulares e, ao mesmo tempo, gestões urbanas mais sofisticadas.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Sofisticadas significa integrar diferentes níveis de governo no financiamento de transportes públicos. Apenas agora, depois de quase três décadas, a prefeitura deu dinheiro para a expansão do metrô, que não recebe um centavo (exatamente isso, centavo), de Brasília -um desdém indesculpável diante de uma região com tanta importância nacional.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Assim como são sofisticados os planos de integração dos vários sistemas de transportes, formando uma malha eficiente, acoplados a projetos destinados a aproximar moradia ao trabalho. Um dos planos mais ousados é a recuperação da orla ferroviária, antiga área de fábricas e hoje subutilizada, em pólo dinâmico, tirando-se proveito da existência de centenas de quilômetros de trilhos.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Medidas dessa complexidade exigem uma política diferenciada para as regiões metropolitanas, a começar da aliança de vários prefeitos vizinhos, em parceria com o governador e o presidente.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Mesmo que saiam do papel, esses planos não bastam. Os mais experientes especialistas de trânsito asseguram que serão exigidas medidas antipáticas. Uma delas é limitar as entregas de carga a determinados horários, o que desagrada aos comerciantes. Outra, ainda mais impopular, é fazer pedágio urbano para tirar os carros das ruas e, ao mesmo tempo, financiar o transporte público.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Vai dar muita briga, mas, depois, todos vão aceitar. Ninguém quer mais tirar o rodízio nem se pede mais o fim dos talões de zona azul, duas medidas que provocaram incômodos quando lançadas. O que não sabemos é se, desse pleito, vai sair um plano capaz de colocar seu projeto político individual abaixo dos interesses coletivos e topar uma briga que pode-se perder no presente, mas se ganha no futuro.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">O prefeito de Londres impôs o pedágio, apanhou de todos os lados, mas venceu e hoje é reverenciado pelos londrinos e aplaudido mundialmente pela sua coragem.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">O que está em discussão não é o trânsito, mas a construção de uma sociedade civilizada. Provavelmente, vai aparecer a luz no fim do túnel quando os eleitores ficarem tão irritados com as mortes provocadas pela poluição como os assassinatos cometidos por marginais.</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Não fosse a pressão, São Paulo não teria reduzido em 73% o número de assassinatos.</p><br /><br /><p class="western" style="margin-bottom: 0cm;"> </p><p class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b>Gilberto Dimenstein</b>, 48, é membro do Conselho Editorial da <b>Folha</b> e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de <a href="http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/">jornalismo comunitário</a> da <b>Folha</b>. Escreve para a <b>Folha Online</b> às segundas-feiras. - retirado do site: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/colunas/index.htm </p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;"> </p>Michelle...http://www.blogger.com/profile/14264096148671430538noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-72613004690335976922008-01-18T10:04:00.001-02:002008-01-18T10:05:44.258-02:00Governo anuncia recorde de 5.877 escravos libertados em 2007<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwJcSBqyWEa1t_-1HPsreWTSWubQYkHjYV1dF2iQwl9EhBM_zZa3V2dlUxJoe8kuxXhaKG21aHSo9MjLZ7EGttNsWhgoxjBHy1YIkCluE8AzIMjWUtyNxMpV7Znvxh8Y4chPYb8A/s1600-h/trabalho+1escravo.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwJcSBqyWEa1t_-1HPsreWTSWubQYkHjYV1dF2iQwl9EhBM_zZa3V2dlUxJoe8kuxXhaKG21aHSo9MjLZ7EGttNsWhgoxjBHy1YIkCluE8AzIMjWUtyNxMpV7Znvxh8Y4chPYb8A/s320/trabalho+1escravo.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5156786502293291298" border="0" /></a>Por Repórter Brasil <p>O conjunto de trabalhadores libertados de situação análoga à escravidão pelo grupo móvel de fiscalização do governo federal alcançou 5.877 trabalhadores em 2007, de acordo com informações divulgadas nesta quarta-feira (16) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Trata-se do maior número de pessoas libertadas desde 1995, quando esse tipo específico de fiscalização iniciou suas atividades. Os dados de 2007 suplantaram o recorde anterior estabelecido em 2003, ano em que 5.223 trabalhadores foram libertados.<br /><br />Os pagamentos de direitos devidos aos trabalhadores (R$ 9,8 milhões) e o total de autos de infração lavrados (<script><!-- D(["mb","3.075) em 2007 também superaram as marcas dos anos anteriores. \u003cbr\u003e\n\n\u003cbr\u003eO recorde de 110 operações realizadas em 2007 foi atingido mesmo com as mais de três semanas de paralisação (entre 21 de setembro e 15 de outubro) do grupo móvel durante o ano. Nesse período, a Secretaria de Inspeção de Trabalho (SIT) do MTE decidiu supender as atividades em decorrência de pressão exercida por uma comissão formada por senadores que tentou deslegitimar uma ação do grupo móvel realizada no final de junho na fazenda e usina Pagrisa. Na operação, em Ulianópolis (PA), \n1.064 trabalhadores rurais foram libertados. \u003c/p\u003e\n\u003cp\u003eNo ano passado, 197 fazendas foram fiscalizadas em 2007, não superando o recorde de 275 propriedades rurais visitadas pelo grupo móvel em 2004.\u003cbr\u003e\u003cbr\u003eNos últimos 12 anos, um total de 27.645 pessoas foram libertadas, em \n1.184 fiscalização realizadas em 621 operações. De 1995 até hoje, os direitos trabalhistas pagos somaram aproximadamente R$ 38,4 milhões e o MTE promoveu a regularização em carteira de trabalho de 27.101 brasileiros e lavrou \n18.116 autos de infração.\u003cbr\u003e\u003cbr\u003eLevantamento parcial da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de 28 de dezembro de 2007 confirma as proporções apresentadas pelo MTE. De acordo com a CPT, foram libertados em 5.467 trabalhadores em 2007. \n\u003c/p\u003e\n\u003cp\u003eSegundo a CPT, porém, houve um recuo no volume de denúncias de trabalho escravo, que são as principais referências para o planejamento de operações do grupo móvel. Em 2007, houve 254 denúncias, enquanto que em 2003 foram 265 e, em 2005, 275. \n\u003c/p\u003e\n\u003ctable border\u003d\"0\"\u003e\n\u003cthead\u003e\n\u003ctr style\u003d\"background-color:rgb(185, 197, 164)\"\u003e\n\u003cth\u003eAno\u003c/th\u003e\n\u003cth\u003eOperações\u003c/th\u003e\n\u003cth\u003eFazendas \u003cbr\u003e\u003c/th\u003e\n\u003cth\u003eRegistros\u003cbr\u003e\u003c/th\u003e\n\u003cth\u003eLibertações\u003c/th\u003e\n\u003cth\u003eIndenizações \u003c/th\u003e\n\u003cth\u003eAutos\u003cbr\u003e\u003c/th\u003e\u003c/tr\u003e\u003c/thead\u003e\n\u003ctbody\u003e\n\u003ctr\u003e\n\u003ctd bgcolor\u003d\"#e9ddce\"\u003e\u003cspan\u003e2007\u003c/span\u003e\u003c/td\u003e\n\u003ctd\u003e110\u003c/td\u003e\n\u003ctd\u003e197\u003c/td\u003e\n\u003ctd\u003e3.497\u003c/td\u003e\n\u003ctd\u003e5.877\u003c/td\u003e\n\u003ctd\u003e9.808.932,39\u003c/td\u003e\n\u003ctd\u003e3.075\u003c/td\u003e\u003c/tr\u003e\n\u003ctr\u003e\n\u003ctd bgcolor\u003d\"#e9ddce\"\u003e\u003cspan\u003e2006\u003c/span\u003e\u003c/td\u003e\n\u003ctd\u003e109\u003c/td\u003e\n\u003ctd\u003e209\u003c/td\u003e\n\u003ctd\u003e3.454\u003c/td\u003e\n\u003ctd\u003e3.417\u003c/td\u003e\n\u003ctd\u003e6.299.650",1] ); //--></script>3.075) em 2007 também superaram as marcas dos anos anteriores.<br /><br />O recorde de 110 operações realizadas em 2007 foi atingido mesmo com as mais de três semanas de paralisação (entre 21 de setembro e 15 de outubro) do grupo móvel durante o ano. Nesse período, a Secretaria de Inspeção de Trabalho (SIT) do MTE decidiu supender as atividades em decorrência de pressão exercida por uma comissão formada por senadores que tentou deslegitimar uma ação do grupo móvel realizada no final de junho na fazenda e usina Pagrisa. Na operação, em Ulianópolis (PA), 1.064 trabalhadores rurais foram libertados. </p> <p>No ano passado, 197 fazendas foram fiscalizadas em 2007, não superando o recorde de 275 propriedades rurais visitadas pelo grupo móvel em 2004.<br /><br />Nos últimos 12 anos, um total de 27.645 pessoas foram libertadas, em 1.184 fiscalização realizadas em 621 operações. De 1995 até hoje, os direitos trabalhistas pagos somaram aproximadamente R$ 38,4 milhões e o MTE promoveu a regularização em carteira de trabalho de 27.101 brasileiros e lavrou 18.116 autos de infração.<br /><br />Levantamento parcial da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de 28 de dezembro de 2007 confirma as proporções apresentadas pelo MTE. De acordo com a CPT, foram libertados em 5.467 trabalhadores em 2007. </p> <p>Segundo a CPT, porém, houve um recuo no volume de denúncias de trabalho escravo, que são as principais referências para o planejamento de operações do grupo móvel. Em 2007, houve 254 denúncias, enquanto que em 2003 foram 265 e, em 2005, 275. </p>Michelle...http://www.blogger.com/profile/14264096148671430538noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-34476399664767138192008-01-07T11:35:00.000-02:002008-01-07T12:02:04.387-02:0048 índios Guarani assassinados em Mato Grosso do Sul no ano de 2007<pre><tt><tt><br /></tt></tt><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Por Iara Tatiana Bonin (Doutora em Educação/UFRGS)</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Cláudio, Gilson, Marcelo, Marina, Márcio, Ramona, Francisco, César,</span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Edson, Mário, Valdir, Lucas, Ademir... Nomes tão conhecidos, nomes<br />comuns… </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Uma listagem com 48(1) nomes de pessoas quase anônimas,<br />daquelas que não contam </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >nas estatísticas, que pesam pouco nas<br />contagens oficiais, as que menos </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >pessoas que também sonhavam<br />com dias melhores, mortos agora, vítimas da violência</span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >cometida contra os povos indígenas em Mato Grosso do Sul.</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Nomes são marcas que nos individualizam, que nos identificam,<br />e por isso é </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >certamente mais fácil lidar com números, quando se<br />trata de expor a violência. </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >A morte parece menos contundente<br />quando remetida ao campo da estatística. </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Mas os nomes falam, sussurram histórias pessoais, lembram<br />pessoas que conhecemos, </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >põem em evidência a humanidade e<br />a materialidade das vidas que foram roubadas. </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Ao lermos<br />os casos de assassinatos noticiados pelos jornais, esses<br />nomes já não </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >nos são indiferentes, especialmente<br />quando se descrevem as condições das mortes: </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >espancamentos, corpos mutilados por inúmeras<br />facadas ou tiros, enforcamentos, </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >estupros seguidos de<br />morte,uso de meios cruéis, assassinatos praticados </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >diante de crianças, com participação de mulheres<br />e adolescentes. Dados </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >que denunciam uma situação<br />insustentável, e que pode ser vista como </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >um grande grito de socorro.</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Todos esses nomes pertencem a pessoas que compartilhavam<br />a vida com outras – </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >eram filhos e filhas, pais e mães, irmãs e irmãos,<br />sobrinhos e netos,eram parte de </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >uma família, de uma comunidade,<br />de um povo, de uma rede de relações que há muito </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" > está ameaçada.<br />E a ameaça não é a barbárie ou a falta de civilidade, que muita gente </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >insiste em atribuir aos índios, mas sim a omissão do poder público,<br />a situação de </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >confinamento em que vivem, a falta de terra, a falta de<br />condições adequadas para organizar </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >e manter a vida, a falta de<br />perspectivas, a ausência de justiça e de direitos. </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >A vida dos<br />Guarani-Kaiowá está ameaçada pelo confinamento de uma<br />imensa população </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >em pequenas áreas, que por sua vez é resultado<br />de uma insaciável sede de produção, </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >de lucratividade, de<br />acumulação que nos torna cegos para as injustiças decorrentes </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >do modelo de desenvolvimento que adotamos como único<br />e inquestionável.</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Os Guarani-Kaiowá vivem um estado de exceção, parecido<br />com aquele experimentado </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >em tempos de guerra ou de repressão,<br />só que para eles sso se tornou rotineiro e, </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >para nós, parece não<br />fazer diferença. Viver em confinamento, enfrentar a escassez, </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >a fome, a violência, o descaso, o preconceito, a falta de assistência,<br />é uma rotina </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" > que torna impossível manter laços de solidariedade,<br />e vivenciar certas tradições, </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >certos costumes que regulam as<br />relações sociais nestas comunidades. Se a desnutrição </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >infantil,<br />noticiada com destaque anteriormente no estado do Mato Grosso<br />do Sul, </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >parecia abalar aquela sensação de que vivemos num país<br />de fartura e de democracia, </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >as notícias de assassinatos indígenas<br />que agora nos chegam desse mesmo lugar parecem </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >não produzir<br />o mesmo efeito. Será que realmente acreditamos se tratar de violência </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >interna, de conflitos entre índios, e pensamos que nada temos a ver<br />com isso? </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Se nos conforta essa certeza, é necessário, então, sacudirmos<br />a poeira que recobre </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >o que chamamos de justiça e reconhecer que a<br />violência que assola a vida indígena </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >tem causas implicadas<br />diretamente com nossas vidas, com nosso modelo de sociedade </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >e com as escolhas que temos feito em termos sociais e políticos.</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Temos tudo a ver com essa lista de nomes de mortos, bem como<br />com as incontáveis listas de pessoas submetidas à semi-escravidão </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >e a condições desumanas de sobrevivência em cada canto desse país.<br />Temos tudo a ver com as concessões dadas a grandes empresas, </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >com a acumulação de terras em latifúndios, com a ampliação dos<br />já imensos plantios de soja, cana-de-açúcar, eucaliptos, e dos cada </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >vez mais amplos campos de criação de gado. E temos também tudo<br />a ver com os desvios de recursos e com a priorização dada a setores </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >financeiros, restringindo sempre mais os investimentos em questões<br />sociais, entre elas a demarcação das terras indígenas. Afinal, </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >todos<br />nós participamos da consolidação de certas formas de governo<br />, consciente ou inconscientemente, falando ou calando, e </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >desse<br />modo legitimamos certas estratégias políticas e acatamos a omissão de</span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >tantos direitos sociais. </span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Se as vítimas indígenas em Mato Grosso do Sul têm nomes, os<br />agressores também têm! Não se trata de responsabilizar </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >apenas a mão que empunhou a arma, a faca, o terçado, a corda<br />da forca, ou que desferiu os golpes, </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >espancando e matando a pauladas<br />. Trata-se de atribuir responsabilidades também, e principalmente, </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >ao poder público, ao Estado brasileiro e ao Governo Federal pela<br />negligência e pelo descaso que </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >leva ao não cumprimento dos<br />direitos constitucionais dos povos indígenas. Se a responsabilidade </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >em demarcar terras indígenas suficientes e adequadas – assegurando<br />assistência e respeito pelas </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >culturas, crenças, tradições e estilos de<br />vida dos distintos povos indígenas – fosse efetivamente </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >assumida<br />pelo Governo Federal, é possível que estes cruéis assassinatos não<br />acontecessem. Isso porque, </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >ao assegurar o restabelecimento das<br />condições de vida e de dignidadedesta população, seria possível </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >vislumbrar um futuro pelo qual vale a pena viver e lutar.<br />Não se trata de assegurar privilégios aos indígenas, </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >como muitos<br />costumam afirmar, mas de resguardar seus direitos, constantes<br />nas leis brasileiras e referendados, </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >também, em diversos<br />documentos, convenções e normas internacionais.</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Pensar nos nomes, nos rostos, na agonia dessas tantas vítimas do<br />descaso e do confinamento nos causa desalento, </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >e é necessário levar<br />em conta que elas tinham diferentes idades... 12, 13, 14, 15, 16 anos!<br />Adolescentes </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >ainda, esfaqueados, violentados, espancados, sem<br />possibilidades de defesa. Adolescentes como nossos </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >filhos,<br />irmãos, netos, passeando, divertindo-se ou a caminho de casa,<br />vítimas da mesma </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >violência que nos apavora quando nossos<br />familiares saem para seus afazeres cotidianos. </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >As vítimas,<br />com seus nomes,histórias e vivências, eram pessoas como<br />nós, para quem </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >certamente a justiça se faz bem mais justa.</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Também foram assassinados homens e mulheres Kaiowá de 18,<br />20, 22, 25 anos,outros de 30, 32, 36; 40, 60, 70, 107 anos! E, diante<br />desse amplo </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >espectro de dor, não podemos mais escapar à pergunta:<br />qual a parte que nos cabe neste grande genocídio? Talvez<br />devêssemos nos perguntar: </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >que tipo de mundo estamos colaborando<br />para construir? Quais são os valores que cultivamos? Quem são as pessoas que contam e pelas quais </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >nos mobilizamos para assegurar a vida? </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Quais são as causas<br />pelas quais lutamos? O que ainda é capaz de nos indignar?<br />E, necessariamente devemos indagar sobre as ações daqueles</span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >que escolhemos para nos representar e para fazer valer nossos<br />direitos de cidadania e para resguardar nossa condição de homens<br />e mulheres que,</span><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >diante da lei, desfrutam dos inalienáveis direitos à<br />vida, à dignidade, à liberdade, à segurança.</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >Devemos nos sentir responsáveis, como pessoas e como cidadãos,<br />pelas grandes injustiças cometidas contra aqueles que se tornam cada </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >vez mais vulneráveis,em especial os povos indígenas para quem<br />reservamos áreas cada vez menores, e de quem a cada dia subtraímos </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >mais e mais as condições de bem viver. Mas,acima de tudo, devemos<br />atribuir responsabilidade àqueles que, ao assumir o governo, </span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:georgia;" >assumiram a inegável atribuição de zelar pelo bem de todos, e de cada um.</span><br /><tt><tt><br /></tt></tt><tt><tt></tt></tt></pre>Michelle...http://www.blogger.com/profile/14264096148671430538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-3126961441068387262008-01-03T08:03:00.000-02:002008-01-03T08:08:18.810-02:002007, o ano em que a imprensa sentiu o clima<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjfru9cTpOcXXFsGN1CgAE_LVRmgMLZAkRydcvfHEJZsqKX39WJUMTrjbUGrGh0ZvlXRI4kgb2LpCm297ysiKVxXKGVoFwiy1u_R09E4BU3jyTCOqzBxE9OIMJddpEp-76j4c71A/s1600-h/jornais.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjfru9cTpOcXXFsGN1CgAE_LVRmgMLZAkRydcvfHEJZsqKX39WJUMTrjbUGrGh0ZvlXRI4kgb2LpCm297ysiKVxXKGVoFwiy1u_R09E4BU3jyTCOqzBxE9OIMJddpEp-76j4c71A/s320/jornais.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5151189915093467410" border="0" /></a>Por Luciano Martins Costa, para o Observatório da Imprensa<p> Este foi o ano em que a imprensa descobriu o meio ambiente. Por conta do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês), divulgado em fevereiro, os jornalistas se viram colocados diante da constatação científica, com quase 100% de certeza, de que o ser humano é responsável pelas mudanças climáticas que podem custar o futuro da humanidade. No rastro da questão ambiental, a mídia se aproximou do tema sustentabilidade, e tivemos nos últimos meses um crescimento no número de iniciativas editoriais nesse sentido.<br /><br />Bons produtos foram colocados à disposição dos leitores e muito dinheiro entrou nos cofres das empresas de comunicação, por conta do interesse de grandes companhias de vincular suas marcas às preocupações com a salvação do planeta. Tivemos cadernos especiais, revistas gordas de anúncios falando da Amazônia, de empresas verdes e empresários motivados pela mais ferrenha responsabilidade socioambiental.<br /><br />Mas a realidade não mudou. A imprensa não tomou uma posição firme na cobrança dos governantes e do capital globalizado por uma mudança nas políticas públicas e nos paradigmas econômicos, e chegamos a dezembro com índices ainda mais vergonhosos de destruição do meio ambiente.<br /><br />Congestionamento final<br />Multidões se acotovelam nas lojas em busca de seus sonhos de consumo, num Natal aquecido por combustíveis poluidores e pela lenha das florestas. No Brasil, o governo comemora um aumento de 11% na arrecadação, e apesar de haver perdido uma receita de 40 bilhões de reais por ano, segue tocando um dos mais ambiciosos projetos de obras já produzido no país – o Plano de Aceleração do Crescimento. O Brasil precisa dessas obras, mas a mídia não questiona que garantias cada uma delas oferece de que o meio ambiente será preservado, ou de que elas representam uma estratégia sustentável de desenvolvimento.<br /><br />Nesse sentido, o Brasil de 2007 pouco se diferencia do Brasil de 1970, com a importante ressalva de que, hoje, vivemos formalmente numa das democracias mais avançadas entre os países em desenvolvimento. Em termos institucionais, com todas as falhas que o Estado brasileiro possa ter, temos democracia para dar e vender a russos, chineses, indianos e sul-africanos. Mas tendemos perigosamente a recriar a ideologia do "Brasil grande" dos tempos do regime militar, sob os aplausos da imprensa.<br /><br />Na semana passada, o presidente Lula celebrava o reaquecimento da indústria automobilística, quando uma única empresa anunciou a criação de mil empregos no ABC paulista. São licenciados em São Paulo 700 veículos por dia. Nascem na cidade 500 crianças por dia. "Nasce" mais carro do que gente.<br /><br />Há cerca de um mês, o urbanista Cândido Malta Campos Filho dizia, no programa Domingo Espetacular, da TV Record, que, pela equação atual, São Paulo vai parar no dia 14 de novembro de 2012, com um congestionamento de 500 quilômetros provocado pelo excesso de veículos. Cândido Malta sabe o que diz. Em mais de 30 anos em cargos importantes do planejamento urbano, ele e seus contemporâneos ajudaram a construir, com políticas públicas equivocadas ou por omissão, o caos que agora denunciam. Talvez ele pudesse publicar neste Observatório um artigo esclarecendo o que mudou em sua visão desde 1978, quando propôs a construção de passarelas sobre o Vale do Anhangabaú, em São Paulo, confinando os pedestres e abrindo espaço para os carros.<br /><br />O estímulo às soluções individuais em detrimento do transporte coletivo deu no que deu. Isso se chama insustentabilidade. Mas a imprensa ainda celebra números de crescimento, sem atentar para os efeitos colaterais que muitos deles produzem – e que podem inviabilizar nossas grandes cidades e produzir lá adiante um grande congestionamento econômico e social.<br /><br />Sociedade de consumo<br />O modelo agrícola vinculado à produção de biocombustíveis, as matrizes de energia definidas hoje, os modais de transporte projetados para as próximas décadas – tudo isso são oportunidades para a construção de um país moderno e ao mesmo tempo comprometido com a preservação do patrimônio de qualidade de vida que precisa ser legado às futuras gerações. Mas não é isso que está acontecendo.<br /><br />Em geral, nas questões que vão a público, as contestações de grupos dissidentes são apontadas pela mídia como retrocesso, quando se dirigem contra os interesses das grandes empresas. Veja-se, por exemplo, o caso da soja transgênica: desde o primeiro protesto dos movimentos de agricultores e ambientalistas contra a disseminação das sementes manipuladas pela Monsanto, a imprensa se colocou claramente a favor da "inovação". Em parte porque os protestos eram liderados por movimentos populares considerados radicais, como o MST, em parte porque viceja nas redações um natural deslumbramento com novidades tecnológicas sem muitas exigências quanto ao fundamento científico. A imprensa é "novidadeira", o que é diferente de ser inovadora.<br /><br />Pois bem. Encerra-se o ano de 2007 com a revelação de que a soja transgênica terá para os agricultores um aumento de custo quase 100% superior ao aumento sofrido pelos produtores da soja natural. Ou seja: além dos riscos ambientais apontados por especialistas desde que começou a polêmica, temos a constatação de que a soja transgênica só é boa para a Monsanto.<br /><br />Esse é apenas um exemplo de como escolhas editoriais que não levam em conta a amplitude dos elementos suscitados pelos fatos podem se revelar desastrosas. A imprensa passou décadas elogiando prefeitos e governadores que construíam viadutos e vias expressas para os automóveis. A sociedade do automóvel está próxima do colapso. A imprensa embarcou nos delírios de grandeza econômica e cobrou crescimento a qualquer custo. O modelo econômico avança para o esgotamento dos recursos naturais, sob a pressão dos enormes contingentes de cidadãos que exigem sua inclusão na sociedade de consumo.<br /><br />A imprensa chamou de "ecochatos" aqueles que vislubraram o desastre com décadas de antecedência. O desastre está aí.<br /><br />(Envolverde/Observatório da Imprensa)</p>Michelle...http://www.blogger.com/profile/14264096148671430538noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-24858437867552219562007-09-06T09:40:00.000-03:002007-09-06T09:42:49.939-03:00Mídia Social fica em primeiro lugar no Intercom<div align="right">Da <a href="http://www.reportersocial.com.br/">Agência Repórter Social </a></div><br />O jornalismo social foi o foco do trabalho premiado durante a 30ª edição da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação), na modalidade Revista Impressa da Exposição da Pesquisa Experimental de Comunicação (Expocom). As jornalistas Michelle Barreto e Bianca Pyl ganharam o prêmio com a criação da revista Mídia Social, um trabalho de conclusão de curso apresentado em 2006 na Universidade Santa Cecília, em Santos. A revista, depois transformada no blog Revista Mídia Social , reúne entrevistas com 15 jornalistas cuja trajetória é marcada pelos temas sociais.<br /><br />A lista de entrevistados inclui dois editores da Agência Repórter Social – Alceu Castilho e Fábio de Castro – e nomes como Neide Duarte, Zuenir Ventura (Rio de Janeiro), Mauri König (Curitiba), Cristiano Navarro (Campo Grande), entre outros. De acordo com as jornalistas, a revista Mídia Social procura mostrar o engajamento social de jornalistas “que se envolvem com temas do terceiro setor e direitos humanos, procurando retratar os fatos sob a ótica do cidadão”.<br /><br />Segundo Bianca, a dupla não teve apoio da faculdade para realizar o trabalho premiado. “Foi difícil, porque o projeto foi reprovado, numa avaliação preliminar, pelo diretor da faculdade. Mas nosso orientador, o professor Eduardo Rubi Cavalcanti, assumiu os riscos e mantivemos o projeto”, disse.<br /><br />O objetivo da grande reportagem sobre jornalismo social constituída pelos perfis de diversos jornalistas, segundo Bianca, era incentivar a prática entre estudantes, ao mostrar as motivações e desafios dos profissionais. “Já gostávamos da área e queríamos colocar em prática, no trabalho, algo de "sociamente responsável", voltado para o cidadão. As histórias que ouvimos foram importantes para nossa formação humana e profissional. Tivemos certeza de que nosso trabalho pode fazer a diferença na sociedade”, afirmou. <br /><br />Michelle Barreto conta que a dupla precisou superar dificuldades financeiras. As duas moravam em Santos e não tinham recursos para as viagens, além da impressão da revista. “Além disso, a faculdade desacreditou nosso trabalho e tínhamos problemas para conciliar o serviço com a agenda dos profissionais. Ganhar o Intercom foi a certeza de que estávamos no caminho certo”, declarou Michelle.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-85708693795382059172007-04-17T00:21:00.001-03:002007-04-18T21:00:31.286-03:00Movimentos socias sem preconceitos<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2I5YM0OoSF7JdkRPTyJGKS1G52aCy6JO5dMJATHou_3TXNumDIoHpDwnoHJvoF6fUYxiTqRksr4GEirugUf9gykMGodR9kwN8WzbMirloEQgQL2tJRBDiNmymiFiJ2Q0Fd7N6/s1600-h/scaner_3.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5054232372796377410" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2I5YM0OoSF7JdkRPTyJGKS1G52aCy6JO5dMJATHou_3TXNumDIoHpDwnoHJvoF6fUYxiTqRksr4GEirugUf9gykMGodR9kwN8WzbMirloEQgQL2tJRBDiNmymiFiJ2Q0Fd7N6/s320/scaner_3.jpg" border="0" /></a><br /><br /><em>"Um canavial tem a extensão<br />ante a qual todo metro é vão...<br />... Ante um canavial a<br />medida métrica é de todo<br />esquecida, porque<br />embora todo povoado,<br />povoa-o o pleno anonimato"</em>.<br /><br /><div align="right">*João Cabral de Melo Neto</div><div align="right"> </div><div align="right"> </div><div align="right"> </div><div align="right"> </div><div align="right"> </div><div align="right"> </div><div align="right"> </div><div align="left"><br />Na tentativa de desmistificar esse mundo rural, a jornalista da Carta Maior Verena Glass resolveu se lançar em meio a canaviais, terras improdutivas, fazendeiros, pistoleiros e trabalhadores rurais sem terra para desvendar esta realidade que, infelizmente, ainda é desconhecida por muitos brasileiros. </div><div align="left"><br />Seu envolvimento começou logo na adolescência, quando a jornalista ainda cursava o Ensino Médio. "Passei um ano trabalhando com movimentos de favelas, aqui em São Paulo. Nesta época, eu desenvolvia um trabalho na favela Monte Azul, na área de educação infantil".<br />Nesse meio tempo, Verena mal sabia que estava cada vez mais envolvida com o tema. "Quando saí do colegial eu não sabia o que fazer, mas já tinha uma idéia de que seria algo social. Só não sabia que seria ligado à área rural", relembra a jornalista.</div><div align="left"><br />Um dos primeiros trabalhos de Verena Glass, que cursou jornalismo na Unesp de Bauru, foi como assessora de imprensa da AS-PTA, que é uma rede de Ongs e associações que trabalham com agricultura agri-ecológica. "Passei dois anos no Paraná, desenvolvendo um trabalho de cidadania junto aos agricultores".</div><div align="left"><br />Para a jornalista, esse foi um dos principais trabalhos que ela desenvolveu na carreira. "Para se ter idéia, nós tínhamos uma escola da própria associação. Foi ótimo dar este curso, porque cheguei a ter alunos que não conseguiam sequer olhar para cima e, depois de um ano e meio, ver esse mesmo aluno fazendo discurso foi fantástico".<br /></div><div align="left">Não foi fácil sair da Capital, deixar os amigos e a família de lado, e ainda por cima se encontrar na profissão. A jornalista passou por maus bocados durante o período em que esteve no campo e sentiu muito medo ao assistir os embates de sem-terra contra policiais e fazendeiros protegidos por pistoleiros. Mas nada disso impediu que a jornalista continuasse a sua militância pelos movimentos sociais. </div><div align="left"><br />De todas estas situações que viu, uma em especial marcou Verena. A história começa em Francisco Beltrão, no Interior do Paraná onde ela presenciou conflitos entre sem-terra e pistoleiros.<br /></div><div align="left">Para combater conflitos e alertar a sociedade e as autoridades, Verena passou a fazer o máximo de reportagens sobre o tema. Mas, segundo a jornalista, as matérias sobre movimentos sociais na grande mídia ainda não são suficientes para atingir o público de uma forma mais efetiva. "A grande mídia deveria discutir mais o tema, mas sem preconceitos. Infelizmente, é muito difícil você encontrar uma reportagem que denomine uma ocupação de terras com a palavra ‘ocupação’. O que você vai encontrar é ‘sem-terra invadem terras no Pará’. Mas em nenhum momento a matéria mostra o motivo que levou àquela ocupação e se as terras ocupadas eram realmente produtivas, ou não". </div><div align="left"><br />Para Verena, esta visão equivocada dos meios de comunicação está relacionada a dois motivos: desconhecimento por parte do jornalista e interesses pessoais do repórter, ou do próprio veículo. "Além de existir uma cadeia ideológica muito forte dos veículos de comunicação, há a questão do desconhecimento. Quando você não conhece de perto uma determinada situação, a tendência é não saber tratar do assunto de uma forma correta. Eu digo isso, porque tenho a consciência de que a visão e o conhecimento que eu adquiri ao longo da minha carreira se deve ao período em que passei trabalhando como assessora em Francisco Beltrão, no Paraná, quando convivia com pessoas de movimentos rurais".<br /></div><div align="left">Verena acredita que esta situação só vai mudar a partir do momento em que o jornalista estiver mais sensível a questões que não recebem um grande desataque por estarem fora do agenda setting. Uma forma de ajudar na construção desse novo olhar seria por meio das universidades.<br />A idéia, segundo a jornalista, seria estimular a participação dos alunos em cursos de extensão que fossem ligados a áreas sociais, Ongs e associações que tivessem como objetivo o bem-estar de uma comunidade de forma prática, e não puramente assistencialista. "Hoje, tudo isto deveria fazer parte da vida do jornalista, mas ainda são poucos os que detêm esta sensibilidade e por isso acredito que as faculdades deveriam estimular um envolvimento direto com alguma ação social. Afinal, é diferente você ler sobre uma realidade e vivê-la por meio dos personagens que você ouviu. Só assim podemos encontrar o verdadeiro sentido da nossa profissão".<br /><br /><strong>Por Verena Glass</strong><br /><strong></strong><br /><em>"Já passavam das 6 horas e o sol estava brilhando. Enquanto, policiais e pistoleiros começavam a expulsar os posseiros, os fazendeiros da redondeza já sentiam a terra mais próxima de suas mãos. Seis meses depois do ocorrido, os sem-terra mostram para esses fazendeiros que a luta pela terra não estava ganha por causa da contratação de pistoleiros. Para que isso acontecesse, era necessário ter inteligência, rapidez e táticas ousadas.<br /></em></div><div align="left"><em>Eu era assessora da Assesoar (Associação de Estudos Orientação e Assistência Rural), ligada à AS-PTA (Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa), que articulava uma série de Ongs e movimentos sociais ligados à agroecologia, em uma manhã, fui surpreendida com um telefonema que dizia que a área da qual os sem-terra haviam sido expulsos era desejada por dois fazendeiros da redondeza. Por conta disso, os posseiros seriam expulsos naquela manhã por pistoleiros e policiais. Fui até o local e consegui retratar o final daquele despejo violento. Tirei muitas fotos e consegui fazer um vídeo, também. Este material, que foi enviado ao então governador do Paraná, Jaimer Lerner, e para o ministério da Justiça, contribuiu para a exoneração do delegado que liderou esta ação, mas não ajudou os posseiros a serem retirados da beira da estrada. </em></div><em><div align="left"><br />Seis meses após este despejo, recebi um outro telefonema, no qual a fonte disse que os pistoleiros responsáveis pelo despejo iriam voltar e ocupar de vez a terra. A partir deste recado, começou toda uma articulação e com isso eu pude, finalmente, entender como o movimento deles funciona. O plano era o seguinte: às 2 horas da manhã nós atravessaríamos o milharal que fica em torno da casa onde estavam os pistoleiros. Como estava muito escuro, nós temíamos encontrar um dos pistoleiros. Caso encontrássemos alguém no mato, a nossa senha era ‘um’. Se fosse dos nossos, a pessoa teria que responder ‘dois’. Se a pessoa não respondesse certo, seria alvejada.</div><div align="left"><br />Quando eu ouvi isso, eu disse para eles: ‘Gente espera um pouco. Por enquanto, vocês são as vítimas aqui. Se vocês começarem a dar tiros, vão perder a razão’. Então eles responderam que só iam atirar nos cachorros. </div><div align="left"><br />Após atravessarmos o milharal e ficarmos bem perto da casa, um maluco da AS-PTA bateu na porta dizendo ser da polícia e deu voz de prisão, mas os pistoleiros, que não eram bobos, sabiam que nós não éramos da polícia, então começaram a meter bala na gente.<br />Eu deitei atrás de um morrinho e, de repente, um cara começou a atirar do meu lado. E depois parou o tiroteio. Os sem-terra pegaram dois pistoleiros.<br /></div><div align="left">Os sem-terra começaram a pegar as armas e nós recolhemos todas elas e colocamos no porta-mala do carro para levar para um advogado amigo nosso. Este advogado entregaria as armas para a polícia como apreensão de armas ilegais. E, obviamente, nós iríamos negar até a morte que estávamos armados, até porque as armas eram todas dos sindicalistas rurais da região. Eu tirei fotos (ao lado) de tudo e tenho todas as fotos guardadas.<br /></div><div align="left">O mais impressionante foi como os sem-terra começaram a lidar com aqueles dois pistoleiros. Era tanto ódio que eles tinham e eu lembro que um dos sem-terra estava tremendo de tanta raiva.<br /></div><div align="left">Os sem-terra primeiro estavam com muito ódio, um ódio que eu nunca vi na minha vida, mas depois o discurso deles, que era ‘seus bandidos, o que vocês estão fazendo aqui?’, começou a mudar para ‘companheiros, vocês também são explorados, por que vocês estão do lado dos fazendeiros e não do nosso?’. Isto aconteceu por causa do trabalho da AS-PTA.<br /></div><div align="left">Eu estava morrendo de medo, mas mesmo assim aproveitei e entrevistei um dos pistoleiros. Perguntei para ele o que eles estavam fazendo lá na casa e ele me respondeu que estava ali a mando dos fazendeiros, que haviam falado que se os sem-terra invadissem era para matar mesmo, que eles estavam fazendo o trabalho deles e não tinham nada a ver com aquilo. Eu, apesar do medo, entendi a raiva dos posseiros. Muitos dali já haviam sido torturados por pistoleiros. </div><div align="left"><br />Após toda esta ação, os pistoleiros foram deixados na estrada amarrados, um de costas para o outro e só de cueca. Aí, eles montaram o acampamento em cerca de dez minutos. Depois, fizeram um esquema estratégico de segurança. Os fazendeiros só ficaram sabendo no dia seguinte pelos pistoleiros, que caminharam cerca de um quilômetro até chegar na fazenda. Pronto: o conflito iria começar novamente. </div><div align="left"><br />Os fazendeiros resolveram ir até a área onde os sem-terra estavam. Eles foram recebidos a tiros pelos sem-terra e deram meia-volta. Os sem-terra continuam na área, porque eles conseguiram a posse final da terra. A luta não foi organizada pelo MST , mas teve muita solidariedade entre os sem-terra, o que, definitivamente, me marcou muito"</em>.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-1800187934634067092007-04-07T13:28:00.000-03:002007-04-17T00:16:49.186-03:00Por um Brasil mais humano<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-GPiB-UCfFG_uhMYqD5x-2BMB9qiBLZsQ-faT4l4bfp_NXXmHHiO0i4SsRRaTb3TFRA64p83FqqJ8ZAZ-SXPNNcbTvb4Q9VHG4F8Ig4IwAr7TjlJAOnTAv7xUXxOKwdRUaV-2/s1600-h/neide_duarte_01.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5054230517370505522" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-GPiB-UCfFG_uhMYqD5x-2BMB9qiBLZsQ-faT4l4bfp_NXXmHHiO0i4SsRRaTb3TFRA64p83FqqJ8ZAZ-SXPNNcbTvb4Q9VHG4F8Ig4IwAr7TjlJAOnTAv7xUXxOKwdRUaV-2/s320/neide_duarte_01.jpg" border="0" /></a><br /><div><em>"A primeira vez que vi Rogério foi numa foto de família, com seus sete irmãos. Ele tinha os olhos grandes, braços e canelas fininhas. Era muito miúdo. Tinha 2 anos e 4 meses, mas, por causa da desnutrição, não falava e nem andava".</em><br /><em></em><br />O menino é um dos personagens que a jornalista e documentarista Neide Duarte encontrou em São José da Tapera, no sertão de Alagoas. Lá, 70% são analfabetos, 92% não têm renda para sobreviver e mais da metade vive sem luz e água. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1997, das mil crianças que nasceram vivas na região, 147 morreram de desnutrição.<br /><br />Lembrar das andanças pelo sertão nordestino ainda emociona a jornalista. Afinal, o espetáculo que Neide viu não foi o mesmo do cinema, cheio de glamour. Ela ficou frente a frente com a secura da caatinga e sentiu na pele o drama que muitos brasileiros vivem. “Conheci um Brasil que não passa na TV. Um Brasil de pessoas que, embora tenham aprendido a ler, não sabem expressar o que sentem, o que vivem, o que lhes falta. Encontrei um Brasil de gente que antes de pensar em ser cidadã, precisa se sentir humano", relembra a jornalista.<br /><br />Segundo Neide, as descobertas que fez durante os últimos anos só foram possíveis por causa da criação do programa Caminhos e Parcerias, exibido entre 1999 e 2004 na TV Cultura. “Só percebi que havia um outro jornalismo quando comecei a fazer o Caminhos. A partir daí, o jornalismo social foi acontecendo na minha vida. Foi uma coisa que foi me pegando aos poucos, mas eu senti que nunca mais poderia escapar daquilo. É como se eu tivesse visto uma fresta e, por ter visto, eu não podia nunca mais fingir que não tinha visto. Eu era responsável por aquilo. Tudo foi fazendo sentido, como se várias coisas se encaixassem, como num quebra-cabeças".<br /><br />Neide mal sabia que, enquanto narrava as tristezas nordestinas, iria moldar a própria história e finalmente encontrar a sua missão. “Para mim, contar as histórias de pessoas fragilizadas e valorizar estas histórias deixou de ser um trabalho e passou a ser a minha vida".<br /><br />Uma das tristezas da jornalista é o fato de o programa ter chegado ao fim. De acordo com Neide, que agora é repórter especial da Rede Globo, isto aconteceu porque o patrocínio do programa acabou. “Acho incrível uma TV pública deixar o programa de lado. Caminhos e Parcerias era um programa que mostrava o Brasil e fazia com que as pessoas o conhecessem mais, fazendo com que mais gente visse que os problemas estavam longe de serem resolvidos e, conseqüentemente, ficassem mais atentas para cobrar mudanças". Ela explica, ainda, que esperou seis meses para ver se, de repente acontecia algo, sem resultados. “Neste meio tempo a Globo me fez uma proposta e eu fui para lá".<br /><br />Apesar de o programa ter acabado, Neide Duarte ainda nutre o sonho de criar um programa como o Caminhos e Parcerias. “Ter um programa que mostre lugares esquecidos é fundamental para criar uma discussão na sociedade". A jornalista explica, que embora as pessoas tenham dado mais atenção para temas ligados ao terceiro setor, o que se vê na mídia ainda é pouco. “As empresas e a própria sociedade têm tido mais participação e, por isso, ultimamente, temos visto mais matérias. Mas infelizmente ainda há muito mais marketing do que propriamente ação".<br /><br />Para a jornalista, o fato de a sociedade ter passado a se interessar mais sobre assuntos sociais nos últimos anos se deve à redemocratização. “No período da ditadura, as pessoas tinham outras preocupações. Como estávamos em guerra, não pensávamos em terceiro setor. Naquela época, ser social era estar politicamente engajado", relembra<br /><br />Embora, segundo ela, as pessoas estejam mais predispostas ao tema, a maioria dos jornalistas deixa o tema de lado porque desconhece o assunto. “Falta uma visão maior da coisa. Falta instrução, conhecimento da própria história e de outras civilizações, também“. Ela completa dizendo que esta “falta de visão“ atinge, principalmente, os jovens jornalistas. “Os recém-formados estão inseridos no contexto do mundo de hoje, que preza o consumo excessivo. Isto está enraizado de uma forma muito forte e, por isso, não conseguem perceber que os valores mudaram e que tudo está trocado".<br /><br />Mas não é só o jovem jornalista que está 'perdido'. Para Neide, a velha guarda do jornalismo ainda encontra dificuldades para trabalhar com o terceiro setor, enquanto, tantas mudanças sociais e tecnológicas acontecem. “Para os jornalistas com experiência já está difícil de perceber que tudo muda muito rápido, imagina para o recém-formado", comenta.<br /><br />Neide Duarte salienta que, por causa deste desconhecimento, o que a sociedade acaba vendo são programas que parecem mais institucionais do que sociais. Ao invés de denunciar o problema pelo qual uma determinada comunidade passa e buscar uma solução junto às autoridades, a empresa (que, geralmente, é a patrocinadora do programa) mostra o problema como resolvido e ponto final. “Eu vejo muitos programas que parecem mais institucionais do que informativos e conscientiza-dores. Eles mostram que por causa de uma ação da 'empresa X' tudo mudou, quando na realidade não funciona bem assim. Um bom exemplo é o caso da falta d’água no Nordeste. Já vi programa que vendeu a idéia de que por causa de um projeto de cisternas da 'empresa X' o problema da falta d’água no Nordeste acabou, quando o problema continua lá. Na realidade, o projeto mudou a vida de uma comunidade específica, e não do povo todo do Nordeste".<br /><br />jornalista acredita que o modo pelo o qual os programas televisivos vêm sendo desenvolvidos afetam diretamente a sociedade, que ao invés de confiar nos programas, vê um misto de amadorismo, publicidade e marketing empresarial. “Talvez as matérias de terceiro setor não ganhem mais notoriedade porque, na maioria das vezes, os programas parecem mais institucionais do que documentários que têm como objetivo colocar temas de importância nacional para serem discutidos".<br /><br />Para Neide Duarte, o seu papel como comunicadora é justamente este: conscientizar, mobilizar as pessoas, plantar novos valores e comportamentos. Para ela, não basta retratar as histórias de desigualdade social que estão espalhadas pelo País e não mover uma palha. O jornalista, diz Neide, tem de traçar um caminho que nem sempre é feito em pistas modernas e bem sinalizadas. Ele não pode esquecer que vai traduzir o mundo para milhares de pessoas e contribuir para que mudanças sejam feitas. Talvez o pensamento de Ortega Y Gasset, lembrado pela jornalista, seja a melhor forma de dizer o modo como todos os jornalistas deveriam pensar, ao sentarem-se para escrever: “Eu sou eu e minhas circunstâncias. Eu sou eu e tudo o que vive e cresce em torno mim".</div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-71831338927167039182007-04-05T00:21:00.000-03:002007-04-05T01:31:30.754-03:00Responsabilidade em Pauta!<div align="right"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7l7r-mIVG-evHCU2HYATRjlA586x4IqHIUEzbUTkHYls1-faY7-CyJtMVpnc6ifZ-GdEDKNE71Qv5LSS2vDXfJD1JK4kF_87sOjPxpQPEEpDtKy6e-lR5d0_s17zbN-SV-0osOg/s1600-h/entrevista_bianca.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049793643677349506" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7l7r-mIVG-evHCU2HYATRjlA586x4IqHIUEzbUTkHYls1-faY7-CyJtMVpnc6ifZ-GdEDKNE71Qv5LSS2vDXfJD1JK4kF_87sOjPxpQPEEpDtKy6e-lR5d0_s17zbN-SV-0osOg/s320/entrevista_bianca.jpg" border="0" /></a><span style="color:#990000;"><em> <span style="font-size:78%;">A jornalista Patrícia Saito durante um dos seminários que ministra pelo Brasil.</span></em></span> </div><br /><div align="justify">A jornalista Patrícia Saito, coordenadora da Rede Ethos de Jornalistas, do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, desde a época da universidade se viu envolvida com temas relacionados à área social. “Fui uma das finalistas da Semana Estado de Jornalismo, com matéria sobre a preocupação de uma usina de açúcar em alfabetizar seus funcionários. Depois disso, percebi que poderia ter um papel no jornalismo que fosse além do profissional e que pudesse ajudar as pessoas, a sociedade”.<br /><br />Patrícia trabalha na capacitação de jornalistas na temática da responsabilidade social. “A Rede Ethos de Jornalistas é um projeto que existe desde 2000 e cujo objetivo é a aproximação do profissional que atua em veículos de comunicação com um conceito ligado à transformação na gestão empresarial”. Além disso, ela destaca a importância da formação do profissional para despertar o interesse por questões sociais. “Acredito que as universidades poderiam ter disciplinas, ou cursos específicos, que tratassem desse tipo de temática e/ou a correlacionassem com o cotidiano dos estudantes. O que acontece é que o jornalista não consegue relacionar uma reclamação sobre o mau atendimento de uma empresa de telefonia, por exemplo, com a responsabilidade social empresarial. E tem tudo a ver. Se prestarmos atenção, este tema pode ser encaixado em qualquer editoria dos jornais, porque tem a ver com o dia-a-dia das pessoas”.<br /><br />Para a jornalista, a mídia tem dado espaço para o tema. “Hoje em dia, isso é visível. Podemos observar que houve crescimento na cobertura do tema, mas ele ainda carece, em alguns casos, de maior aprofundamento”.<br /><br />Para quem duvida da relação entre responsabilidade social empresarial e sociedade, Patrícia Saito explica que as reportagens não só servem como fonte de informação para a sociedade, mas também para cobrar e acompanhar o comportamento empresarial. “É importante que a mídia tenha esse papel duplo: questionar as práticas ruins e disseminar as boas”.<br /><br />Conforme Patrícia, na tentativa de dar um panorama geral de como a mídia trata da Responsabilidade Social Empresarial nas pautas, o Instituto Ethos publicou um livro que analisa o tema. No livro Empresas e Imprensa: Pauta de Responsabilidade o leitor encontra o resultado de uma pesquisa que analisou 54 dos principais jornais do País no período de agosto de 2003 a setembro de 2004. Na entrevista abaixo, você encontra mais detalhes desta pesquisa do Instituto Ethos.<br /></div><br /><div align="justify"><strong><span style="color:#009900;"><strong><span style="color:#009900;"></span></strong></span></strong></div><blockquote><p align="justify"><strong><span style="color:#990000;">Como a mídia entende e pauta o conceito de Responsabilidade Social Empresarial?</span></strong></p><p align="justify"><span style="color:#000000;">Destaco, especialmente, três delas. Primeiro, a abordagem da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) ainda é predominantemente factual, ou seja, 76,6% das matérias apresentam uma contextualização primária do assunto. Segundo, o tratamento editorial está voltado para a repercussão de eventos - 26,3% do material analisado chegaram aos jornais em função da repercussão desses acontecimentos. E em terceiro há ausência de um olhar crítico: 96,3% dos textos não questionaram dificuldades na consecução de práticas de responsabilidade social. </span></p><p align="justify"><span style="color:#009900;"><span style="color:#009900;"><strong><span style="color:#990000;">Qual o papel do jornalista ?</span></strong></p></blockquote><blockquote><p align="justify"><span style="color:#000000;">O jornalista tem um papel fundamental para fazer avançar a RSE. Criamos a Rede Ethos de Jornalistas para capacitar o jornalista no tema, de modo que ele possa difundir informações sobre RSE; reconhecer as melhores e as piores práticas; estimular a inserção da pauta social; aplicar os critérios de RSE no veículo de comunicação em que atua; e perceber a relevância de seu papel profissional e ético. Acreditamos que, com informação e discussões constantes nas redações, podemos chegar a estes resultados. Temos hoje mais de 740 jornalistas cadastrados. </span></p><p align="justify"><strong><strong><span style="color:#990000;">Como o jornalista pode atuar de forma responsável?</span></strong></p><p align="justify"></strong><span style="color:#000000;">A Responsabilidade Social Empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética, transparente e solidária da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona. Empresas socialmente responsáveis estabelecem compromissos públicos. Uma atuação socialmente responsável pressupõe discussão de dilemas e o estabelecimento de metas de curto e longo prazo voltadas para a transformação social. </span></p><p align="justify"><strong><strong><span style="color:#990000;">Quais são os temas negligenciados pela grande mídia?</span></strong></p><p align="justify"></strong><span style="color:#000000;">A publicação buscou levantar os temas mais e menos abordados de acordo com os Princípios do Pacto Global e os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social. No caso do Pacto Global, há pouca cobertura de questões de corrupção, apenas 1,6% das matérias pesquisadas está relacionada a este assunto. A abordagem dos temas dos Indicadores Ethos está concentrada prioritariamente em comunidade (24,3%), em comparação com o último colocado: pouco se trata da responsabilidade social das empresas na cadeia de fornecedores (3,3%).<br /></span><br /><strong><strong><span style="color:#990000;">Os profissionais estão aptos a tratar do tema?</span></strong></p><p align="justify"></strong><span style="color:#000000;">É possível perceber a ocorrência de um fenômeno de mão dupla. Há um número crescente de jornalistas com matérias aprofundadas que já contemplam a visão de Responsabilidade Social Empresarial como modelo de gestão. Por outro lado, em função da rotatividade característica da profissão, sentimos necessidade de investir num processo contínuo de capacitação nas redações, voltado para o aprofundamento da cobertura jornalística. A Rede Ethos de Jornalistas realiza periodicamente seminários de capacitação nos veículos. Nessa hora, a troca e o aprendizado são grandes e trazem para o Instituto Ethos as principais dificuldades do dia-a-dia dos jornalistas.<br /></span><br /><strong><strong><span style="color:#990000;">Quais são os avanços e as dificuldades nessa área?</span></strong></p></strong><p align="justify"></span></span><span style="color:#000000;">A cobertura jornalística da RSE é ampla, mas necessita de aprofundamento e críticas. A mídia tem sido uma aliada para fazer evoluir o movimento, por meio de reportagens que disseminam boas práticas empresariais e denúncias responsáveis sobre maus exemplos. O Ethos reconhece a importância da mídia neste processo e não por outra razão decidiu fazer este diagnóstico sobre a cobertura do tema. É necessário esclarecer sempre as diferenças entre filantropia, Investimento Social Privado e responsabilidade social empresarial, e também envolver os veículos de comunicação, enquanto empresas, com o movimento. No caso da cobertura jornalística, os desafios são aprofundamento, diversificação de fontes, críticas, etc.<br /><br /></p></span></blockquote>Michelle...http://www.blogger.com/profile/14264096148671430538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-68551086838540545242007-03-01T14:52:00.000-03:002007-03-01T15:05:04.700-03:00Social na teoria e na práticaA essência do jornalismo é pautar questões que afetam a vida dos cidadãos com o objetivo de diminuir as desigualdades sociais, mas não é isso o que se tem visto na mídia. O que comprova essa afirmação é a ausência de editorias específicas ou de reportagens sobre o tema com uma periodicidade fixa.<br /><br />A precariedade com que o assunto é tratado se justifica de diversas formas, pela mídia. As mais recorrentes são a falta de tempo do profissional, que muitas vezes tem de realizar mais de cinco matérias em um dia, o pouco incentivo dos editores, a falta de interesse dos leitores e a própria ausência de percepção e sensibilidade do repórter.<br /><br />Para o italiano Umberto Eco, esse comodismo da imprensa não se justifica. “O silêncio não é protesto, é cumplicidade“, diz ele. O jornalista Alceu Luís Castilho, um dos fundadores da <a href="http://www.reportersocial.com.br">Agência Repórter Social</a>, concorda. “A iniciativa cabe ao repórter. Não adianta reclamar que as pautas não entraram, se não foi feita uma tentativa. O espaço existe, porque o leitor demanda esse tipo de pauta, desde que a edição consiga perceber a conexão imediata com seu universo".<br /><br />Da mesma forma que no passado dependia da iniciativa dos jornalistas a publicação de matérias criticando o governo militar, hoje para o social entrar na pauta das grandes redações também depende do repórter.<br /><br />Na ditadura, havia um jornalismo politicamente engajado. Com a redemocratização, a luta principal da sociedade brasileira passou a ser contra as desigualdades sociais e, conseqüentemente, isso deveria se refletir no jornalismo. Mas o que vemos é o inverso, as matérias de cunho social ainda não encontram espaço e estão dispersas nas páginas dos jornais e no noticiário dos meios eletrônicos.<br /><br />“Os anos 70 (que do ponto de vista da política começam em 1968) foram os chamados Anos de Chumbo. Foi quando a ditadura chegou ao auge, sofisticando seus mecanismos de repressão e aprimorando seus sistemas de censura e tortura. A questão política se sobrepunha à questão social - e o jornalismo acompanhava, tendo, evidentemente, muito mais preocupações políticas do que sociais. Com a democratização, isso mudou, sim, mas o jornalismo não acompanhou“, conta o jornalista Zuenir Ventura, autor do livro '1968: O Ano que Não Terminou'.<br /><br />Ele continua: “Nos anos 90, quando escrevi Cidade Partida (escrevi em 93 e publiquei em 94), já era clara para mim e muitos outros a consciência da tragédia social que vivíamos. Sem ter a intenção, acabei retratando, em 1968, uma geração excluída politicamente e, em Cidade Partida, uma geração excluída socialmente“.<br /><br />O pensamento de Zuenir é corroborado por Eugênio Bucci no livro Sobre Ética e Imprensa. "A notícia não é apenas uma novidade, é uma novidade que altera o arranjo dos fatos, poderes ou idéias em algum nível. Ela incide, portanto, sobre as relações humanas: ela é socialmente notícia". Por causa da dimensão da notícia, o social deve ser priorizado.<br /><br />Para o jornalista Fábio de Castro, que defendeu dissertação sobre o tema na Sorbonne (Paris III), muitos profissionais argumentam que o conceito de jornalismo social se enquadraria em todo jornalismo, tendo em vista que todo tema tem implicações sociais. “Todo jornalismo também está ligado a questões econômicas e políticas, porém isso não impede que existam editorias de jornalismo econômico e político“.<br /><br />Muitos acreditam que o social é maniqueísta, ou seja, torna os jornalistas da área 'heróis' e desvaloriza o trabalho de repórteres que não dão enfoque ao tema. Os críticos, contudo, não percebem que a discussão vai além, já que não importa quem está certo ou errado.<br /><br />A própria universidade não incentiva o engajamento social dos futuros repórteres. A professora Cremilda Medina de Araújo, da Escola de Comunicação e Artes da USP, afirma em seu livro Profissão Jornalista: Responsabilidade Social que em muitas universidades predomina a crítica de origem sociológica, reafirmando-se como incontestável a luta entre o bem e o mal. Para a autora, um fato é indiscutível: o papel de interação social da comunicação.<br /><br />Para Carlos Alberto Vicchiatti, doutor em Comunicação pela PUC, o papel social do jornalista é fazer o cidadão refletir e almejar uma mudança real e definitiva, evitando a superficialidade e a omissão, que só fazem aumentar as diferenças sociais. "O texto deve contextualizar o leitor, se preocupar com a sociedade na qual ele está inserido. Não se deve esquecer do ser humano". Para o professor, é necessário dar uma notícia calamitosa sem sensacionalismo. "A notícia é tratada como mercadoria, e como mercadoria adapta-se às leis do mercado". Vicchiatti afirma que o engajamento do jornalista é importante no aperfeiçoamento da sociedade.<br /><br />A promoção e proteção dos direitos humanos no cotidiano dependem da atuação da imprensa. Historicamente, em diversos países, os avanços em relação à agenda dos Direitos Humanos estão diretamente associados à prática do jornalismo investigativo, responsável não apenas por denunciar violações desses direitos, como também por fortalecer o debate público em torno de formas de se garantir os mesmos.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-1168704844757273632007-01-13T14:12:00.000-02:002007-01-13T14:16:25.130-02:00O jornalismo que transformaO jornalista paranaense Mauri König tem muitas histórias para contar. Histórias que incluem agressões, no início da carreira, perigos e acima de tudo relacionamentos humanos que ele pôde, de alguma forma, ajudar a melhorar.<br /><br />A história que envolve agressão começou em novembro de 2000, quando König iniciava sua carreira jornalística como repórter do jornal O Estado do Paraná, em Foz do Iguaçu. “Tinha muito contato com jornalistas do Paraguai e da Argentina, por causa da proximidade da fronteira. Naquele novembro, meu colega César Palácios, que então trabalhava no jornal ABC Color, me disse que adolescentes brasileiros estavam sendo recrutados para o serviço militar obrigatório no Paraguai“, conta.<br /><br />Logo, o jornalista percebeu que ali havia uma grande reportagem. Após ir cinco vezes ao Paraguai para percorrer as cidades próximas da fronteira, o jornalista encontrou vários casos. “Numa cidade chamada Santa Rosa Del Monday, a uns 80 km da fronteira, entrevistamos dois brasileiros de 17 anos que estavam prestando serviço na delegacia local (no Paraguai o serviço militar também pode ter relação com a Polícia Nacional, ligada ao Exército)“.<br /><br />Em outra cidade, San Alberto, König também encontrou brasileiros em uma delegacia, só que desta vez se deparou também com agressores, que queriam impedir a publicação da matéria. Ele foi parado em uma suposta blitz policial quando voltava por uma estrada de terra batida, cortando plantações de soja. “O homem que me fez sinal para parar vestia farda da Polícia Nacional. Pensando se tratar mesmo de uma blitz, parei e no momento em que ia apresentar meus documentos, recebi um soco no nariz ainda dentro do carro. Meus óculos caíram e aí comecei a ver tudo meio borrado. Só pude observar que outros dois homens, em trajes civis, saíram detrás da caminhonete, me agarraram pelo colarinho e me jogaram ao chão. Os três começaram a me chutar e a me bater com uma corrente e pedaços de pau. Não tive como reagir. Eram três sobre mim. O jeito foi virar de bruços para proteger meu rosto“.<br /><br />A certa altura, conta Mauri, um dos homens forçou o joelho em suas costas e enlaçou a corrente no seu pescoço. “Quando eu estava praticamente perdendo os sentidos, ele puxou a corrente, levantou e deu mais alguns golpes com a corrente nas minhas costas. Eles riam muito e falavam em guarani (a língua nativa do Paraguai) enquanto batiam. A única coisa que disseram, numa mistura de espanhol e português, foi que eu nunca mais ia voltar ao Paraguai. De repente, pararam de bater e foram embora“.<br />König teve a máquina fotográfica destruída, o filme arrancado e velado, o carro danificado com chutes e pauladas. Com uma faca ou pedra escreveram no capô: ‘Abajo prensa de Brasil’. Mesmo dolorido, o repórter dirigiu por uns 80 km até chegar à sucursal do Diário Notícias em Ciudad del Este, em busca do socorro de amigos. Ali, o jornalista Juan Carlos Salinas avisou toda a imprensa paraguaia, que cobriu a agressão, e depois o levou ao consulado brasileiro.<br /><br />No Instituto Médico Legal de Ciudad del Este encontraram mais de 100 hematomas no corpo do jornalista. O mesmo exame foi feito por um juiz forense da cidade vizinha de Hernandárias. O Ministério Público desta última cidade abriu um inquérito, que exatamente um ano depois foi arquivado por falta de provas. “O comando da Polícia Nacional em Ciudad Del Este me levou para reconhecer os agressores, mas não pude fazê-lo porque no momento do atentado eles estavam com bonés e óculos escuros que cobriam praticamente todo o rosto. O caso teve grande repercussão na imprensa paraguaia, mas ficou na impunidade“.<br /><br />A reportagem foi publicada no dia 24 de dezembro de 2000. Depois disso, König não pensava mais em voltar ao assunto. Mas surgiram várias informações que a situação era ainda mais grave do que ele havia noticiado. “Uma das minhas fontes foi um coronel que me ajudou, com a condição de que ficaria no anonimato. Prometi preservá-lo e ele começou a revelar coisas absurdas que aconteciam. Jovens eram recrutados para o tráfico de drogas dentro dos quartéis, onde também eram abusados sexualmente e mortos por mera diversão de oficiais“.<br /><br />Com estas novas informações o jornalista decidiu dar continuidade à reportagem, mas estava com medo de retornar ao Paraguai. “A então senadora Elba Recalde montou um esquema de segurança para que eu pudesse ir a Assunção sem maiores problemas. Fui então com o fotógrafo Silvio Vera. Ficamos três dias na capital paraguaia e fizemos uma série de entrevistas. De fato, fomos e voltamos sem problemas. A segunda parte da reportagem foi publicada em abril de 2001, também em O Estado do Paraná. O título desta vez era: ‘Mentiras encobrem crimes nos quartéis’”. Ao todo, foram quase cinco meses de investigação e no final o jornalista pôde mostrar que 109 jovens, de 12 a 18 anos, haviam sido mortos de forma misteriosa nos quartéis do Paraguai entre 1989 e o início de 2001. Foram mortos com tiro na cabeça e no peito, espancados ou induzidos a tentar fuga dos quartéis para serem abatidos a tiros.<br /><br />Depois do atentado, a imprensa paraguaia passou a dar mais visibilidade à questão do recrutamento de menores de 18 anos para o serviço militar. Na ocasião, agências internacionais de notícias também noticiaram a agressão. Um ano depois, por pressões da ONU, o Congresso paraguaio desengavetou uma antiga lei e tornou facultativo o serviço militar no país.<br /><br /><strong>Infância no limite</strong><br /><br />Mauri König se dedica a questões ligadas à infância há vários anos. Essa preocupação garantiu a ele, em 2003, o título de Jornalista Amigo da Criança, concedido pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). “Isso me levou a concorrer no 2º Concurso Tim Lopes para Projetos de Investigação Jornalística, promovido pela Andi, no qual ganhei uma bolsa para realizar uma reportagem que incluía uma viagem pelas fronteiras do Sul e parte da fronteira Centro-Oeste do Brasil, para tratar da exploração sexual de crianças e adolescentes. Junto com o fotógrafo Albari Rosa, percorri 9.200 quilômetros de carro durante um mês, entre setembro e outubro de 2004“.<br /><br />A reportagem retrata casos de exploração das mais variadas formas e, ainda, faz um mapa das rotas de atuação das redes locais e internacionais que exploram crianças e adolescentes. “Em Ciudad Del Este, cidade paraguaia na fronteira com Foz do Iguaçu, eu e Albari ajudamos no resgate de uma menina de 12 anos que estava sendo explorada sexualmente por outra de 14. A situação nos sensibilizou de tal forma que não podíamos ficar indiferentes, ao encontrá-la em condição deplorável durante a madrugada, nos arredores da cidade. Passamos todo o dia seguinte empenhados em mobilizar as autoridades e a polícia para resgatá-la, o que acabou acontecendo à noite“.<br /><br />A repercussão foi tão boa que König fez outro projeto, em 2005, para percorrer as fronteiras do Norte do Brasil. “Detalhei o tempo necessário, o roteiro da viagem e os custos. A direção da Gazeta do Povo acreditou no projeto e, novamente, eu e Albari saímos a campo”. Desta vez eles percorreram 13 mil quilômetros de carro, 4 mil quilômetros de barco pelos rios da Amazônia e 2 mil quilômetros de avião. Foram, portanto, 19 mil quilômetros em dois meses de viagem. Ao final dos dois projetos os profissionais percorreram 28 mil quilômetros por toda a fronteira habitada do Brasil, literalmente do Oiapoque ao Chuí.<br /><br />O jornalista vai transformar esta viagem em um livro, em fase de finalização. “Pretendo publicar no primeiro bimestre de 2007. Nele, farei uma narrativa parcialmente em primeira pessoa, mostrando as diferentes situações que encontramos“.<br /><br /><strong>Família Melo</strong><br /><br />Em junho de 2004, Mauri König saiu da redação do jornal Gazeta do Povo para fazer duas matérias, mas voltou com 15. Entre elas, a história da família Melo, que vivia em condições subumanas na zona rural de Mangueirinha, região sul do Paraná. “Eu e o fotógrafo Albari Rosa saímos para fazer uma avaliação das estradas não-pedagiadas do Paraná e o que resta do espólio do extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC) no norte do Estado. Quando viajamos juntos, eu e o Albari costumamos revezar no volante. Naquele momento, Albari dirigia e eu seguia apreciando a paisagem bucólica quando, de repente, vi três crianças correndo num barranco à beira de uma rodovia estadual. Pedi para Albari dar meia-volta. Ali tinha algo não muito certo“. <br /><br />O faro de König estava correto: as crianças moravam ali. Mas não só isso. No decorrer da entrevista com pai, mãe e quatro filhos (um a mais do que vimos correndo no barranco), eles observaram a dualidade daquela gente: pais desesperançados e filhos esperançosos por um futuro melhor. “O que nos chamou a atenção foi que eles estavam sendo devorados pela miséria, literalmente. Todos, sem exceção, estavam com os dedos tomados por bichos-de-pé. O caso mais grave era do menino Luís Gabriel, de 5 anos, que já estava com os movimentos comprometidos. Alguns meses mais e ele começaria a ter problemas de locomoção“.<br /><br />O jornalista relacionou a história desta família ao problema da pobreza no Paraná, no Brasil e no mundo. “Busquei explicar o problema com números e entrevistas com especialistas. A reportagem comoveu os paranaenses, que, liderados pela Pastoral da Família, conseguiram ajuda para a Família Melo. Além de brinquedos, roupas e comida, os Melo ainda foram incluídos no programa habitacional do município, uma vez que viviam numa tapera que sempre inundava nos dias de chuva. Hoje, a família mora numa casa nova, num conjunto habitacional“. <br /><br /><strong>Prêmios </strong><br />Foram quatro, com a reportagem do exército do Paraguai. O mais importante foi o Prêmio Lorenzo Natali, concedido pela Federação Internacional dos Jornalistas e pela Comunidade Européia em 2002, além do Prêmio de Direitos Humanos da Sociedade Interamericana de Imprensa. Um ano antes, em 2001, a reportagem já havia ganhado o Prêmio Esso de Jornalismo, na categoria Regional Sul, e o Prêmio Imprensa Embratel, também na categoria Regional Sul. “Com a matéria sobre a família Melo recebi em 2004 meu segundo Esso (Regional Sul)“, conta Mauri König.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-1166926433239700362006-12-24T00:09:00.000-02:002006-12-24T19:42:03.710-02:00Senzalas modernas<em>O lugar era escuro, pequeno e abafado.<br /><br />Havia uma só porta e pequenas frestas para a entrada de ar.<br /><br />O solo era de terra batida.<br /><br />A alimentação eram os restos de comida dos fazendeiros.<br /><br />E pensar que o fim da escravidão foi em 13 de maio de 1888...</em><br /><br /><br />Esta é a realidade de uma das senzalas modernas que estão distribuídas pelos 27 estados brasileiros. De 1995 até 2006, 18 mil pessoas que estavam vivendo em regime de escravidão ganharam a liberdade em decorrência das operações de fiscalização realizadas pelo governo federal. Mas a realidade do trabalhador brasileiro ainda é precária. Afinal, existem pessoas que não conseguiram sair desta situação.<br /><br />Uma das pessoas que está no front desta guerra é o jornalista e criador da Ong Repórter Brasil, Leonardo Sakamoto, que há cinco anos tenta acabar com processo de escravidão dos trabalhadores e garantir dignidade e respeito para muitos que não tiveram a oportunidade de serem livres.<br /><br />Sakamoto, que trabalhou em veículos como Revista Terra e editora Abril, conta que o seu envolvimento com causas sociais começou desde cedo, tanto que a escolha pelo jornalismo foi uma forma de instrumentalizar isto. “Já na época da faculdade eu queria fazer algo diferente. Algo que pudesse mudar esta situação de desigualdade social. Eu não queria ficar preso na redação. Eu queria visitar locais esquecidos e relatar o que acontecia nestes lugares, inserindo estes lugares e suas histórias na pauta dos grandes veículos“. <br /><br />Para o jornalista, a situação no país é precária porque ainda faltam políticas duras que inibam os fazendeiros a manter trabalhadores escravos. “A punição ainda sai barata para o fazendeiro porque, hoje, ela só acontece no âmbito econômico e não no criminal. Embora já existam projetos de lei tramitando na justiça, tudo está caminhando a passos lentos“. “Hoje, só existe uma pessoa foi condenada por trabalho escravo, mas ela não foi para a cadeia. Ela teve que pagar em cestas básicas“.<br /><br />O jornalista afirma que as prisões não acontecem por causa da morosidade da justiça e também porque há lacunas na legislação que não definem se a pessoa deve ser julgada em competência federal ou estadual. <br /><br />E enquanto os processos se acumulam nas salas de juízes e a justiça caminha a passos mais lentos do que nunca, os aliciadores de trabalhadores, ou melhor, os famosos ‘gatos’ continuam tão rápidos como os carros de fórmula um. Para se ter idéia de como os ‘gatunos’ têm trabalhado bem, de janeiro a agosto deste ano o grupo de fiscalização do Ministério do Trabalho (MTE) já encontrou e libertou 1744 pessoas. No Pará, durante o período de 1995 e 2003, registrou que 4571 trabalhadores estavam vivendo em regime de escravidão. Estes deram a sorte de serem libertados, mas quantos ainda estão presos por ai?<br /><br />Na tentativa de mudar a realidade o jornalista decidiu que tinha que fazer algo. Era necessário alertar a sociedade, a mídia e autoridades sobre o tamanho problema que o país tinha. “Não dava mais para fechar os olhos e ignorar tanta crueldade. Era impossível só fazer matéria sobre lugares com problemas sociais graves e nada mudar. Automaticamente, você é empurrado para uma ação direta e, embora em certos momentos lhe venha à mente aquela coisa da faculdade que você é um observador neutro, cada vez mais você sente que precisa participar“. <br /><br /><br /><strong>Nascia assim a Repórter Brasil</strong><br /><br /><br />O trabalho da ong consiste em fortalecer a divulgação de reportagens sobre o tema e desenvolver projetos sociais que contribuam com a erradicação do trabalho-escravo. <br /><br />Hoje, a Repórter Brasil tem três grandes eixos. O primeiro é fazer matérias sobre direitos humanos, dar palestras e divulgar informações sobre o tema; o segundo é manter um plano de comunicação comunitária, onde um grupo da ong capacita jovens em todo Brasil, com o intuito de fazer com que esses jovens criem veículos de comunicação na sua própria cidade; o terceiro eixo é a parte de jornalismo e o combate ao trabalho escravo.<br /><br />O projeto carro-chefe da Repórter Brasil é o 'Trabalho Escravo Nem Pensar' que tem como meta capacitar professores e lideranças populares nos locais onde há ocorrência de trabalho escravo para que estes professores trabalhem com o tema com a comunidade deste cedo. Um grupo da ong fica em um determinado local, durante uma semana, orienta as pessoas para que elas fiquem atentas aos ‘gatos’ [pessoas que ‘contratam’ trabalhadores e os mantêm em regime de escravidão]. Nestes últimos três anos, foram 1000 pessoas em 15 cidades que receberam a capacitação. <br /><br />Com este trabalho Sakamoto conseguiu o que tanto sonhava: se realizar profissionalmente, ou seja, inserir as pautas que tanto queria quando trabalhava na grande mídia e ao mesmo tempo alertar a sociedade e as autoridades de como o trabalhador vinha sendo escravizado. "Quando você vê uma situação de desigualdade tão forte como hoje e você fica calado você é conivente. E eu não queria ser deste jeito. Eu queria fazer alguma coisa para tentar mudar isto. Não queria fica preso na pauta diária eu queria ir além disso".<br /><br />Para o jornalista o mais importante é que a partir da criação da Repórter Brasil e, principalmente, da agência de notícias, que foi nasceu em abril deste ano, o tema acabou ficando em maior evidência na mídia. “O principal é colocar a mostra o problema na sociedade de um modo que este problema seja discutido. A mídia tem este objetivo de expor esta ferida e não deixar que a esqueçam, ou seja, fazer com que o assunto esteja em todos os lugares possíveis em impossíveis. Ela tem que mostrar que a Reforma Agrária é necessária e que não adianta dar terra para o trabalhador, tem que ensiná-lo a plantar de foram correta, garantir escoamento da produção dele, entre outras coisas, como a garantia de material abaixo do custo para o pequeno produtor, por exemplo. <br /><br />Quanto a forma dos textos da agência, Sakamoto enfatiza que não é necessário dramatizar a reportagem ao extremo, afinal, o mais importante é alertar as pessoas, para que elas pressionem o poder público e este tome as providências necessárias. “Não precisa no texto escrever ‘a pobre da criancinha...’, basta que colocar a verdade. Com isto, você ajuda a mudar leis, a fiscalizá-las, punir culpados, porque a mídia tem um poder fundamental para contribuir com a luta do trabalho escravo. Sem a mídia, o combate ao trabalho escravo não estaria forte como hoje". <br /><br /><br /><strong>Boa cobertura transforma a realidade sim!</strong><br /><br /><br />Um exemplo de que uma boa cobertura pode fazer a diferença é a pesquisa que a ong fez a pedido do governo federal, que identificou a cadeia produtiva do trabalho escravo. <br /><br />O objetivo era fazer um levantamento sobre as relações comerciais de 100 fazendas, que possuíam trabalhadores escravos, com varejo e o mercado internacional. Segundo o jornalista da Repórter Brasil, eles descobriram que 200 empresas nacionais e internacionais vendiam produtos que haviam sido produzidos por trabalhadores escravos. <br /><br />As empresas eram de diversos seguimentos como: café, carne, cana-de-açúcar, algodão, soja, pimenta do reino, aço, entre outras. “Atingimos diversas empresas que se somarmos equivale a um PIB (soma riquezas internas do país) de mais de 40%“.<br /><br />Após a realização da pesquisa, a Repórter Brasil, juntamente, com o Instituto Ethos e a Organização Mundial do Trabalho criaram o Pacto Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo, no qual as empresas que estavam no levantamento se comprometeram a não comprar mais daquelas fazendas que tinham trabalhadores escravos. <br /><br />Por causa do pacto, muitas fazendas foram à falência, outras tiveram que mudar o nome ou até mesmo serem vendidas. Isto é, o trabalho escravo passou a ser mau negócio para muita gente. Sakamoto explica que, após o acordo, as empresas passaram a verificar se estão comprando de fazendas com trabalhadores escravos ou não. “A pesquisa foi uma experiência interessante porque a cadeia produtiva se tornou uma política pública de combate ao trabalho escravo e é considerada até hoje, como uma das principais políticas já feitas“, garante o jornalista. <br /><br />É por meio de medidas como esta que a ong deixa claro que o seu trabalho não se resume a apenas diminuir os números de trabalhadores escravos, mas sim fazer com que crianças e adultos não tenham a infância e a dignidade roubadas porque um fazendeiro ou empresário quer aumentar o seu lucro a qualquer custo. A Repórter Brasil quer garantir que não existam mais casos como o de José*, que ficou preso como escravo em uma fazenda por dez anos, e o de Pedro*, que aos treze anos já era escravo em uma propriedade rural. O menino, que há dois anos trocou os brinquedos, a escola e os amigos pela motoserra, tinha como sonho ser caminhoneiro para ir bem longe da fazenda. No dia em que foi libertado, 1º de maio, mal sabia o significado da data... E pensar que a escravidão foi naquele mesmo dia há 118 anos...<br /><br /><br />* Nome alterado para preservar a identidade das vítimas do trabalho escravo.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-1165713130762911702006-12-09T23:07:00.000-02:002006-12-18T15:41:09.936-02:00Por um jornalismo mais democráticoApós a abertura de um seminário na Colônia de Férias dos Químicos, em Praia Grande, uma das assessoras do sindicato dos trabalhadores do setor foi passear na praia e quando voltou do passeio percebeu que havia pisado em fezes. Para uma pessoa comum, seria só lavar a sandália. “Mas para nós, jornalistas, a responsabilidade só tinha começado. No dia seguinte, a jornalista foi à praia e viu, com a maré baixa, que a cidade não tinha sistema de tratamento de esgoto doméstico. Ele era lançado diretamente no mar”.<br /><br />Quem lembra da historia é o jornalista Sérgio Gomes, fundador, juntamente com outros profissionais, do jornal Sol e Alegria, que teve sua primeira edição em agosto de 1988. A luta contra a despoluição das praias, no entanto, começou oito anos antes de surgir a publicação.<br /><br />Gomes relembra que, quando retornou a São Paulo, a primeira coisa que fez foi entrar em contato com a Cetesb. Ele, então, descobriu que as praias de Praia Grande estavam impróprias havia 3 anos. A Folha de S. Paulo publicava a balneabilidade das praias de todo o litoral, menos ade Praia Grande. “Eu fiz uma carta para o jornal questionando por que a balneabilidade deste município não era publicada, já que esta era a praia da classe trabalhadora”.<br /><br />O jornalista diz, ainda, que a imprensa da Baixada Santista não dava atenção ao caso. “Fiquei espantado, porque é um assunto que tem interesse para a região, mas<br />isto não era noticiado. Isso era uma vergonha, porque a classe trabalhadora tinha direito ao lazer sem colocar a saúde em risco”.<br /><br />Indignado, Sérgio levou todos os dados que conseguiu apurar na Cetesb para Aloíso Nunes de Ferreira Filho que na época era presidente da comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa. “Ele disse que iria enviar ofícios para saber o porquê daquela situação. Mas eu sabia que aquilo não mudaria se ficasse no papel. Propus, então, que fizéssemos uma reunião com as colônias de férias de Praia Grande para produzir um dossiê com os dados sobre a poluição das praias e um vídeo para apresentar a ele. Depois, nós passaríamos a divulgar o vídeo com o intuito de chamar a atenção para o problema e dar um fim definitivo na questão”.<br /><br />Mas, no fundo, o jornalista sabia que só isso não seria suficiente para criar uma grande mobilização. Para acabar com a poluição, era necessário fazer mais, ou seja, era preciso conscientizar a população sobre a importância da preservação das águas.<br /><br />Nascia assim, em 1988, o jornal Sol e Alegria que tinha como proposta não deixar a discussão sobre a despoluição, literalmente, morrer na praia. Além disso, a publicação apresentava matérias sobre o que os governos estadual e municipal vinham fazendo a respeito da despoluição e o que o munícipe e as colônias de férias podiam fazer para contribuir com a melhora da qualidade da água.<br /><br />Era um engano pensar que os problemas estavam ligados apenas à poluição e às perdas<br />econômicas da cidade. Segundo Gomes, a praia estava abandonada por completo, nem salva-vidas existia. Conforme uma pesquisa realizada na época, mais de 200 pessoas morriam afogadas por ano no município.<br /><br /><strong>Motivação</strong><br /><br />Apesar das dificuldades, Sérgio Gomes seguiu em frente. A vontade lutar aumentou ainda mais após ele encontrar um dos seus colegas do sindicato vivendo em condições precárias por causa dos problemas em Praia Grande. “Eu estava passando e vi um trabalhador sindicalizado, que eu conhecia, morando embaixo de uma ponte. Parei o carro e fui até ele para saber o havia acontecido. Ele me contou que o irmão dele morreu afogado na praia, porque não havia salva-vidas. Ele teve que gastar muito dinheiro com o enterro, fez um empréstimo, não teve como pagar e, com isso, foi obrigado a vender o barraco e morar embaixo da ponte. Eu não tinha me dado conta de que um afogamento podia levar uma família a viver em condições desumanas. Era inadmissível ver o que estava acontecendo na cidade e ver que ninguém fazia nada. Enquanto no Guarujá tinha salva-vidas até com jet ski, em Praia Grande não tinha nem bombeiro”.<br /><br /></strong>Indignado com o que havia acontecido com este trabalhador, o jornalista foi até o secretário de Segurança Pública, que na época era Luiz Antonio Fleury Filho (depois, governador), com um dossiê no qual constava o número de mortes por afogamento em Praia Grande. “A partir disso, surgiu a Operação de Verão, que consistia em colocar salva-vidas em pontos estratégicos e impedir que mais pessoas morressem. Com essa medida, o número de afogamentos caiu de 200 para 50 pessoas por ano”.<br /><br />Gomes explica que o jornal Sol e Alegria conseguiu alcançar seus objetivos, porque não só noticiava o problema, mas também cobria as negociações e cobrava os resultados. “A existência do jornal, com periodicidade, possibilitou os resultados que temos hoje. Nós articulamos com o Executivo, o Legislativo e os sindicatos, por isso funcionou”.<br /><br />Para Sérgio Gomes, é desta forma que o jornalismo deve ser feito. Embora muitos acreditem que este tipo de jornalismo engajado está, geralmente, associado a partidos políticos e é parcial, ele explica que “é impossível fazer alguma coisa de sentido social sem mostrar a política”. “Tem que saber como a sociedade está, ter noção política, saber do Legislativo e dos outros poderes. Jornalismo Social eficaz tem que ter uma visão política, mas uma coisa é política e outra são os partidos políticos. É preciso separar as coisas para não desmerecer o trabalho de outros jornalistas que trabalham com o social”.<br /><br />O dever do jornalista, diz Gomes, é informar e garantir que o povo tenha instrumentos para decidir e ver que não está sendo enganado. Por isso, é preciso saber quais são as aspirações da população e escrever de uma maneira que ela compreenda a importância da informação. “Precisamos ter capacidade de mobilização política. A imprensa não publica as injustiças contra o povo. Se morrer alguém em Moema, é uma grande repercussão. Já no Jardim Ângela não vai nem ser noticiado”.<br /><br />Para mudar esta realidade, Sérgio Gomes considera necessário que haja mais engajamento por parte da mídia. E para que a cobertura de temas sociais se torne freqüente, ele defende a democratização dos meios de comunicação. “Criar meios próprios é a solução. Pegue um ônibus e vá até os acampamentos do MST. Vá lá e faça uma reportagem, veja se realmente é o que se noticia. Isso é jornalismo social e politizado”.<br /><br />Sérgio Gomes diz que as grandes redações só tratam da temática social, principalmente de movimentos populares, de vez em quando e de forma “folclórica”. Por isso, para que as pessoas passem a conhecer os “Brasis” que existem no nosso País, o jornalista tem que se empenhar mais. “Quando você vai aos lugares, fotografa, mostra as dificuldades, revela situações, mostra os paradoxos, os desafios e as dificuldades, a realidade, as contradições, as esperanças, isso é que é capaz de mobilizar as pessoas”.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-1165102925064521082006-12-02T21:39:00.000-02:002006-12-03T00:11:36.246-02:00Cidadãos esquecidosUma intenção pode ser maravilhosa, mas na realidade tudo começa com uma ação. E enquanto muitos escolheram reclamar e acusar os governos de serem os únicos culpados pela má distribuição de renda, pela fome, pelo 69º. lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Sócio-Econômico e por tantos outros problemas, o jornalista e idealizador da Revista Idéia Social, Ricardo Voltolini, resolveu ir além.<br /><br />Voltolini, que há mais de dez anos milita na área de Jornalismo Social, decidiu fazer algo para melhorar o Brasil. Precisava contar histórias de pessoas que, como ele mesmo diz, são vistas como cidadãos de segunda classe por conta da pobreza e da falta de cultura.<br /><br />Uma destas histórias foi “Meninas de Turbantes do Pará”. De cabelos bem compridos, em respeito à religião, centenas delas acabam vítimas de escalpelamento. Isto acontece dentro do principal meio de transporte da região, os barquinhos de motor de popa, que não possuem segurança alguma. Os cabelos das jovens enroscam no equipamento e são arrancados do couro cabeludo. Logo, as meninas têm as suas vidas duramente marcadas por um problema que poderia, facilmente, ser evitado com informação, cuidado e o uso de proteção nos motores.<br /><br />Para o jornalista, a história das meninas de turbantes foi a mais marcante da sua carreira. “Esta é a história que mais me marcou porque eu pude perceber a extensão e diversidade dos problemas sociais de um Brasil continental e rico em contrastes”.<br /><br />Para que tragédias como esta não voltem a acontecer, o diretor de redação da Idéia Social acredita que é necessário mais divulgação. Desta forma, a sociedade tem a oportunidade de redescobrir o Brasil e, ao mesmo tempo, refletir sobre a sua parcela de responsabilidade em relação a problemas tão graves, mas que muitas vezes passam despercebidos.<br /><br />Voltolini enfatiza que a participação da imprensa é essencial para que temas como o das meninas de turbantes passem a ser discutidos com mais freqüência. Mas, segundo ele, o que se vê ainda é muito pouco. “Vejo, com alguma tristeza, que os jovens jornalistas, por desinformação ou alheamento, repetem o equívoco dos velhos jornalistas de achar que tudo o que diz respeito à esfera pública é responsabilidade exclusiva dos governos”.<br /><br />Para ele, esta desinformação generalizada acontece por causa da evolução tecnológica. Os valores da sociedade mudaram de uma forma tão rápida, que a maioria dos jornalistas não conseguiu acompanhar. Logo, o que se vê nos noticiários são preconceitos que foram estabelecidos há muito tempo e já não deveriam existir mais. “O mundo mudou. Hoje, se fala em sustentabilidade, em tecnologias sociais, em novas formas de arranjos produtivos, em economia solidária, em voluntariado como ferramenta estratégica. Para escrever sobre esse novo Brasil, o novo jornalista precisa compreendê-lo”.<br /><br /><strong>A Idéia Social</strong><br /><br />A missão da Idéia Social é promover o debate de idéias sobre o terceiro setor, a responsabilidade social e o investimento social privado, analisando contextos e discutindo conceitos que estimulem a reflexão, a formação de conhecimento e a adoção de novas práticas.<br /><br />“Nossa intenção não é criar mais um espaço para noticiar projetos de empresas ou de organizações de terceiro setor, mas mergulhar a fundo na compreensão do que está por trás dos importantes movimentos de Terceiro Setor e Responsabilidade Social, produzindo debate pluralista de idéias nesses dois campos hoje em ascensão no País. Queremos fazer uma revista diferenciada, que combine informação aprofundada, com qualidade estética e, por essa razão, faça diferença na vida do leitor”, diz Voltolini.<br /><br />Outra preocupação do jornalista é publicar textos que ensinem as pessoas a fazer algo por uma comunidade. “Além de reportagens e artigos, a Idéia Social publica também estudos de caso e matérias na linha do Como fazer”.<br /><br />Para a revista, cujo público-alvo são formadores de opiniões, estudantes e organizações do terceiro setor, os princípios que permeiam as pautas são pluralismo de idéias; apartidarismo; criticidade sem denuncismo; educação pela informação, para a revisão e aprimoramento de práticas.<br /><br />Por meio desta publicação, Voltolini pretende fazer com que a sociedade se torne mais participativa a ponto de se envolver diretamente com uma causa. Um exemplo citado pelo jornalista de que isso é possível é a ONG Sarapó. Ela foi criada por um médico que cuidava das meninas de turbantes, que estava inconformado e queria prevenir o problema e chamar a atenção das autoridades.<br /><br />“Uma organização que nasce da indignação de um cidadão sensível aos problemas do seu semelhante é uma prova de como o terceiro setor é importante”, diz Voltolini. Para ele, o jornalista é fundamental para disseminar ideais como esse sem preconceitos. “Do contrário, será o mero reprodutor de um discurso passadista, de idéias equivocadas, conceitos que já não mais se sustentam à luz dos novos tempos. Será um jornalista fora do seu tempo”.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-1164485611839691632006-11-25T18:07:00.000-02:002006-11-25T18:13:31.850-02:00Guerrilheiro ambientalEscrever matérias sobre meio ambiente não implica engajamento, mas defender causas ambientais significa se engajar. Já defender causas sociais em plena ditadura militar representava não só engajamento, como exigia uma ideologia firme. O jornalista santista Lane Valiengo, 53 anos, enfrentou essa situação durante o final da década de 70 e início dos anos 80 – e obteve reconhecimento com isso. Junto com os repórteres Leda Mondin e Manuel Alves Fernandes, Lane ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo por uma série de reportagens sobre o risco de desabamento da Serra do Mar.<br /><br />Segundo Lane Valiengo, defender ecologia nessa época era considerado coisa de subversivo. Além disso, diz ele, era necessário ter consciência de que iriam tentar desqualificar as matérias e ter a dimensão do poder econômico que as grandes indústrias poluidoras tinham na região.<br /><br />O jornalista lembra que o engajamento de sua geração começou como uma forma de luta para melhorar a sociedade. “O pessoal veio dos movimentos hippie e punk. Éramos politicamente engajados e a luta ambiental veio para nós como um caminho de mudança. Não conseguimos mudar socialmente, nem politicamente. Tentamos pelo menos salvar um pouco de terra”.<br /><br />Outro fator que contribuiu para a publicação das matérias foram os colegas de redação, afirma Lane. “Vários jornalistas que tinham essa preocupação estavam juntos. Em 1984, as matérias ambientais se tornaram o carro-chefe do jornal A Tribuna, que era o diário que mais publicava reportagens desse tipo no Brasil”.<br /><br />Na época em que começou a produzir as matérias sobre meio ambiente, a sociedade não tinha noção do que era o meio ambiente, avalia Lane Valiengo. “Para falar disso, além do engajamento, tínhamos que ter uma boa didática para ensinar as pessoas a defender a natureza, porque senão as conseqüências seriam graves. Eu andava com um relatório sobre produtos químicos de baixo do braço para consultar”.<br /><br />A cidade de Cubatão é hoje referência na defesa ambiental. Para muitos, isso é resultado das matérias produzidas por Lane Valiengo e seus companheiros de jornal. “O Governo resolveu fazer um plano de salvamento da Serra do Mar. As indústrias tiveram que se adequar para diminuir a poluição. Tudo isso começou a partir das nossas matérias”. Até hoje existe um programa de controle da poluição de Cubatão que, para o jornalista, foi conseqüência direta das matérias.<br /><br /><br /><strong>Dificuldades<br /></strong><br />A primeira dificuldade enfrentada por Lane Valiengo foi convencer a chefia do jornal sobre a idéia de se defender o meio ambiente. “As indústrias começaram a anunciar na primeira página do jornal, que é muito cara, com textos dizendo que não poluíam. Durante sete meses tivemos carta branca para continuar com as matérias, até que veio a ordem: pára”.<br /><br />Outra questão que teve de enfrentar foram as ameaças constantes. “Elas vinham dos militares, que ameaçavam nos enquadrar na Lei de Segurança Nacional. Nós tínhamos fichas no Dops com todos os nossos passos. Às vezes, as ameaças eram veladas. Alguém falava ‘cuidado, você não sabe onde está se metendo’. Muitas vezes, vinham do poder econômico, com ameaças de parar os anúncios. E de políticos. Um, inclusive, foi no jornal pedir a minha cabeça ao editor chefe”.<br /><br />O jornalista cita como um dos acontecimentos que marcaram sua carreira o incêndio na Vila Socó, em Cubatão. “Quando aconteceu o incêndio da Vila Socó, a imprensa foi toda pra lá. Teve dois grupos de jornalistas, um que jogou o bloquinho e foi ajudar os bombeiros e outro que continuou a coletar dados. Mas a realidade ali era tão doída, que tínhamos que fazer alguma coisa. Eu não fui para fazer matéria, fui para ajudar. Estava de férias na época”.<br /><br />Lane admite que esta diferença de postura marcou muito. “Se eu tivesse ido para fazer matéria, eu teria ajudado da mesma forma. Aí é que está a diferença entre quando você é formado para ser jornalista e quando você é formado para ser cidadão que também é jornalista. Comprometido com a vida, sempre vou ser, antes da profissão”.<br /><br />Outra reportagem que Lane Valiengo menciona foi no bairro da Alemoa. “Fui fazer uma matéria sobre um caminhão que havia tombado. Quando cheguei, vi os moradores catando o arroz que caiu do veículo. O arroz era contaminado e estava sendo transportado para ser incinerado. Mas as pessoas estavam catando para comer”.<br /><br />O que motivou Lane a seguir essa linha do jornalismo foi sua formação. “Eu já tinha uma predisposição para isso. Fui do movimento da contracultura. Escrever sobre meio ambiente é uma coisa. Agora, brigar pelas causas ambientais é outra. Era isso que eu fazia. Era um guerrilheiro ambiental”.<br /><br /><strong>Prêmio Esso</strong><br /><br />Lane Valiengo recebeu o Prêmio Esso pelo conjunto de matérias que ajudou a produzir sobre o risco de deslizamento da Serra do Mar. O jornalista conta que a reportagem surgiu quando um engenheiro do Instituto Florestal ligou para a redação do jornal A Tribuna e sugeriu uma pauta a ser feita em São Paulo. “Ele tinha um relatório que mostrava que a Serra do Mar estava desabando. O material era todo carimbado de confidencial. A Tribuna adotou, em termos de edição, uma postura mais agressiva. A matéria saiu e sacudiu a cidade”. A população tomou conhecimento do fato e passou a cobrar.<br /><br />A série começou com o relatório e depois foram mostradas as conseqüências. “Esse prêmio foi resultado da mobilização da comunidade da Baixada Santista. Não foi tanto a qualidade do texto. A noticia é tão gritante, por si só ela já tem valor”.<br /><br />Um fato curioso, para o jornalista, ilustra bem o que era a desinformação na época. “O Manuel fez uma matéria com o título: ‘Tombamento da Serra será amanhã’. Foi uma confusão, as pessoas acharam que ia desabar tudo, mas na verdade era o tombamento como patrimônio histórico. Depois, teve que sair uma retificação: ‘Atenção tombamento não é queda’. Foi um episódio engraçado”.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-1164377032795292712006-11-24T11:59:00.000-02:002006-11-24T15:16:21.490-02:00Mobilização Kaiowá, Guarani e Terena<div align="left"><a href="http://photos1.blogger.com/x/blogger/6463/3792/1600/479109/awabia1.jpg"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://photos1.blogger.com/x/blogger/6463/3792/320/638979/awabia1.jpg" border="0" /></a><br />Os povos indígenas do Mato Grosso do Sul, particularmente os Kaiowá, Guarani e Terena, estão muito preocupados com a quase total paralisação dos procedimentos de regularização de suas terras. São quase duzentos processos judiciais envolvendo as terras indígenas neste Estado. Grande parte desses processos se encontram no TRF-3ª Região, em São Paulo. Além disso a Funai, neste último ano não constituiu nenhum grupo de trabalho, mesmo sabendo que existem mais de cem terras indígenas (<em>tekohá</em>) que precisam ser identificados. Essa situação fez com que aumentasse expressivamente a violência entre esses povos, sendo o Estado com maior número de suicídios, assassinatos, mortes por atropelamento, homicídios, dentre outros.<br /><br />Diante dessa realidade, as 15 comunidades e lideranças indígenas vêm a São Paulo, para conversar com as autoridades responsáveis pelos processos e denunciar a situação dramática que estão passando.<br /><br />No dia 27 de novembro, às 15 horas, será realizado o <strong>Encontro Guarani</strong>, com participação de indígenas Guarani, Kaiowá e Terena do Mato Grosso do Sul, de São Paulo e de outros locais do Brasil e da América do Sul. O encontro acontece no no Pátio da Cruz da PUC/SP, e terá rezas, danças e falas.<br /><br />Na terça-feira, 28 de novembro, os indígenas participarão de Audiências Públicas no TRF da 3ª Região, avenida Paulista, 1842. À noite, haverá visita à aldeia Jaraguá, no Pico do Jaraguá, para realização de rituais.<br /><br />Na quarta-feira, 29, a programação será encerrada com um ato no vão livre do MASP, às 15 horas, com participação de povos indígenas de todo o país, movimentos sociais e estudantes.<br />Haverá projeção de filmes na PUC nos dias 27 e 28, seguidos de debates.<br /><br /><strong>Exposição de fotografias</strong><br />Entre os dias 21 e 30 de novembro, será realizada uma exposição de fotografias de aldeias Guarani do Mato Grosso do Sul, no hall do andar térreo do prédio novo da PUC-SP. As fotos são do fotógrafo Flávio Cannalonga e Núcleo de Estudos em Antropologia Prática (Neap) / PUC-SP. Curadora Marcela Cavalcanti.<br /><br /><br /><strong>Informações e auxílio à imprensa: </strong><br /><strong><br /></strong>Marina Gonzalez<br />(11) 8206-6917<br /><a href="mailto:marinamgonzalez@hotmail.com">marinamgonzalez@hotmail.com</a><br /><br /></strong>Tatiana Lotierzo<br />(11) 9103-4200;<br /><a href="mailto:tatianalotierzo@yahoo.com">tatianalotierzo@yahoo.com</a><br /><br /><strong>NEAP/PUC-SP<br /></strong>neap_pucsp@yahoo.com.br<br />(11) 9153-5573 – Rodrigo Domenech<br />(11) 9984-2721 – Diego Galípolo<br />(11) 8585-8818 - Victor Strazzeri<br />(11) 7120-6466 – Ramirys de Andrade<br /><br /><strong>CIMI/MS<br /></strong>cimidourados@terra.com.br<br />(67) 3424-9410<br />(67) 9983 3982 Egon Heck<br />(67) 9983 4089<br /><br /><strong>Endereços </strong><br />PUC-SP – R. Monte Alegre, 984.<br />MASP – Av. Paulista, 1578.<br />TRF – Av. Paulista, 1842<br /><br /></div><strong></strong><div align="left"><strong></strong></div><div align="center"><strong>Participantes</strong>: </div><div align="center">Kaiowá e Guarani do Mato Grosso do Sul<br />Guarani de São Paulo e outras regiões<br />Pankararu, Terena e outros povos indígenas em São Paulo – na manifestação Entidades indigenistas e dos movimentos sociais<br /></div><div align="center"><strong>Organização:<br /></strong>Comissão Guarani/Kaiowá – MS<br />Povo Indígena Guarani – SP<br />Cimi – Conselho Indigenista Missionário<br />Núcleo de Estudos em Antropologia Prática (Neap) / PUC-SP </div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-1163294278085599312006-11-11T22:52:00.000-02:002006-11-11T23:17:58.126-02:00Consciência ambientalDecência. Não foi isso que o jornalista Adalberto Marcondes, da Revista Eletrônica Envolverde, encontrou durante a cobertura das eleições para governador, no Amazonas, em 1986. Apesar da pauta ser política, ele enxergou o que muitos jornalistas ainda não conseguem ver, ou fingem não ter visto.<br /><br />É o próprio Marcondes quem conta: “Vi a miséria e o desespero de uma mãe que preferiu vender a filha, de 12 anos, a um garimpeiro, para poder dar um prato de comida para os outros filhos. Aquilo me tocou muito e me colocou diante uma realidade que não era possível aceitar. Ela tinha que fazer uma opção: ou vendia a filha e com aquele dinheiro comprava as coisas para os outros filhos, ou então todos iam continuar passando fome. Então, eu acho que um mundo em que a mãe tem que enfrentar esse dilema não é um mundo correto, não é um mundo decente, não é lugar bom para se viver. E ter visto isso mudou a minha visão de mundo e o sentido do meu trabalho”.<br /><br />Esse acontecimento foi fundamental para que o olhar social do jornalista despertasse. “Esta cena marcou a minha decisão de trabalhar com determinados tipos de informações, que levassem as pessoas a refletir sobre a realidade e sobre o tipo de mundo que elas gostariam de deixar para as gerações futuras”, relembra.<br /><br />Na busca de um mundo mais decente, surgia, há 10 anos, a revista eletrônica Envolverde, que por meio da divulgação de notícias de cunho social retrata um Brasil sem disfarces. “A Envolverde quer levar para o noticiário diário assuntos como o da menina que foi vendida. Temos que fazer as pessoas refletirem sobre o que podem fazer para que problemas como esse não aconteçam mais”.<br /><br />Segundo Adalberto Marcondes, como toda mídia pequena, a Envolverde teve que superar muitas dificuldades para chegar onde chegou. Ele não desistiu e, hoje, o site possui o patrocínio da Cavo, empresa especializada em engenharia e conservação ambiental, e é parceira de outras Ongs, como a AW4 Tecnologia, Agência Internacional Inter Press Service e Terra América.<br /><br />De acordo com Marcondes, a revista, que foi vencedora do 6º Prêmio Ethos de Jornalismo na categoria Mídia Digital, tem uma média de quase 5 mil acessos por dia, o que, mensalmente, equivale a mais de 1 milhão e meio de pessoas visitando o portal.<br /><br />Marcondes admite que o número de leitores interessados ainda não é suficiente para que temas como meio ambiente, educação e cidadania façam parte do cotidiano da mídia. Ele explica que isso acontece porque boa parte da mídia ainda tem preconceito em relação a esse tipo de tema. “A imprensa procura trabalhar com temas que tenham alguma relevância momentânea para poder vender jornal e acaba não dando destaque para as minorias. Logo, o debate não é feito pela sociedade”.<br /><br />O jornalista afirma que esse preconceito pôde ser visto durante a cobertura da instauração de cotas para negros e índios nas universidades federais e estaduais. “As matérias estão cheias de preconceitos e desinformação. Não é um debate claro sobre qual é o papel dessas cotas e porque se deveria bancá-las”.<br /><br />Além disso, ele aponta outros exemplos envolvendo a questão racial, o gênero e o poder aquisitivo do brasileiro. “A questão racial é tratada de forma absurda, afinal, se coloca o negro como minoria no Brasil, enquanto todos sabemos que mais de 50% da população é formada por negros. Outro dia eu ouvi: 'As minorias brasileiras: negros, mulheres e pobres’. Eu pensei, vocês estão loucos, porque as mulheres formam 51%, ou seja, são maioria, e não minoria. Os negros também compõem boa parte da população e, pelo que me consta, a maioria da população não está nadando em dinheiro”.<br /><br />Ele também destaca a pobreza como tema desprezado pela mídia. “A pobreza é tratada pelo pitoresco, e não por ser uma coisa séria. As matérias são: ‘Brasil bate o recorde em desigualdade’. Isso nós já sabemos, e daí? O que se pode fazer?”, questiona Adalberto Marcondes.<br /><br />Para ele, o fato de a mídia não conseguir trabalhar com as minorias, com a miséria e com políticas públicas contribui para que os leitores tenham uma visão rasa e superficial da realidade que, na maioria das vezes, é a de pequena parcela da classe média. “Quem assiste à Rede Globo acha que nós moramos em um País como a Espanha, a Bélgica, ou seja, um País de segundo mundo ajeitado, e não um país de terceiro mundo”.<br /><br />Segundo o criador da Envolverde, uma das formas de fazer com que a sociedade passe a enxergar o País com outros olhos, sem o glamour das novelas, é por meio do trabalho do jornalista. “A imprensa tem que ficar mais atenta ao que acontece no País. Ela tem que estar mais preparada e sensibilizada com o que acontece à sua volta para poder divulgar assuntos de relevância nacional, e não fofocas”.<br /><br />Mas para que o jornalista tenha essa sensibilidade, é necessário que essa percepção seja desenvolvida desde o começo da carreira, ou seja, quando ele ainda está na faculdade. “Acredito que a inserção de uma disciplina de jornalismo social não resolveria o problema, porque estaríamos burocratizando o social. Porém, se a faculdade tiver um projeto de realizar palestras com pessoas que trabalham com terceiro setor, fica mais fácil haver interação desses jovens com o tema. Afinal, o estudante passa ter contato com muita gente, com muitas idéias, com muitos conhecimentos, e isso acaba abrindo o seu leque de raciocínio. Ele conhece muitas idéias e, a partir disso, decide quais são aquelas com as quais se identifica e está disposto a ir em frente”.<br /><br />Marcondes, que já trabalhou em revistas como Isto É e Exame, nas agências de notícias France Presse e Estado e em jornais como Gazeta Mercantil e Estadão, reclama que ainda são poucas as reportagens sobre o tema que saem na mídia. “Na maioria das vezes, nós publicamos e um ou outro jornal vai atrás. Isso acontece por falta de conhecimento dos jornalistas”.<br /><br />No entanto, se por um lado a Envoverde encontra dificuldade em ter o seu conteúdo espalhado por veículos da grande mídia, por outro ela ganha o mundo por meio da Internet, das redes de jornalistas ambientais que se formam no País e dos multiplicadores que o portal conquistou ao longo de 10 anos de existência.<br /><br />Marcondes explica que, apesar de tudo, o portal tem vantagens, porque a Internet facilita muito a comunicação. “Disponibilizamos 25 editorias diferentes, que vão desde o tema água, até biodiversidade, lixo, energia, governo, saúde e cidadania. Com a nossa diversidade de pautas, atraímos diversos leitores. Além disso, o portal tem como público-alvo formadores de opinião, como jornalistas, advogados, ambientalistas, pesquisadores e universitários, que passam as informações adiante”.<br /><br />A equipe da Envolverde pretende despertar nos jornalistas a sensibilidade necessária para trabalhar com temas sócio-ambientais. “É preciso que o jornalista esteja bem informado e seja insistente ao vender uma pauta. Só assim ele vai conseguir emplacar uma pauta, que por conta do seu conteúdo social provavelmente seria descartada. Mas se ele constrói essa pauta com relevância, criatividade e muita informação, uma hora vai conseguir emplacar”.<br /><br />Embora alguns jornalistas acreditem que com a inserção de editoriais de meio ambiente, educação, ou até mesmo cidadania, o problema da falta de reportagens de cunho social estaria resolvido, para Marcondes isso não resolveria a questão. “O olhar ambiental tem que ser transversal, ou seja, tem que estar em todas as editorias. Se, por um lado, com a criação de editorias específicas o veículo passa a ser obrigado a preencher aquele caderno, por outro, se não souber trabalhar o tema corretamente, a proposta de conscientizar a sociedade vai por água abaixo”.<br /><br />Ele enfatiza que é importante que o jornalista seja uma pessoa bem informada e que participe do que acontece na sua sociedade. “Caso contrário, acabará fazendo, sem perceber, marketing empresarial e não prestando um serviço à comunidade”.<br /><br />Para o criador da Envolverde, a preocupação da sociedade com o meio ambiente aumentou com a realização da Eco – 92, realizada no Rio de Janeiro. Depois disso, houve uma queda no interesse das empresas e da própria população. O tema entrou novamente em voga em 2001 e, desde então, não parou mais de despertar interesse.<br /><br />O jornalista acredita que este crescimento está relacionado a quatro fatores: à freqüência com que os desastres ambientais têm ocorrido; às empresas terem percebido que é necessário preservar o meio ambiente; ao trabalho de muitos ambientalistas, que tem surtido efeito no comportamento da população, que hoje recicla mais, por exemplo; e ao interesse das empresas em criar uma política de sustentabilidade para que possam continuar existindo. “Pela primeira vez, as grandes empresas estão preocupadas com sua perenidade, porque uma empresa não é como uma pessoa. Enquanto nós temos uma expectativa de vida de 70, 80 anos, elas sabem que continuarão a existir por 150 anos, ou até mais. Mas para uma empresa viver tanto, ela tem que olhar para o futuro e estar ciente de que precisa ter esse futuro. Então, ela não pode matar seus consumidores. Ela precisa ter matéria-prima, não pode esgotar os recursos naturais agora, porque precisará deles nos próximos anos. Com isso, elas mudaram a postura, para poderem ter uma vida mais longa”. <br /><br />Nesse contexto, o trabalho do jornalista, diz Marcondes, serve principalmente para conscientizar as pessoas de que elas não podem ver os recursos naturais como se fossem eternos. “Temos de repensar modelos e fazer com que a sociedade pense no futuro que ela quer deixar para as próximas gerações”.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36324151.post-1162692817690317452006-11-04T22:58:00.000-03:002006-11-09T13:17:06.946-02:00Caráter do repórter<em>As escolhas do jornalista dizem muito sobre seu caráter, as decisões desde qual fonte ouvir até qual enfoque da matéria. Com base nisso o repórter Cristiano Navarro fez sua escolha: defender os direitos dos índios e reportar suas lutas.</em><br /><em></em><br />“Os pistoleiros vieram gritando, pararam e desceram da caminhonete bem ali. Depois pegaram um galão de gasolina e botaram fogo em tudo, moço. Daí saíram dando tiros para todos lados. Então acertaram meu filho, que caiu logo ali. E você sabe como ele morreu? assim de joelhos, pedindo pra não morrer”. Quem ouviu esse relato foi o jornalista Cristiano Navarro. “Naquele dia, em uma aldeia no interior do Maranhão, o depoimento da testemunha, um velho índio de mais de noventa anos, cego de um dos olhos e pai do cacique Guajajara, João Araújo, me ensinou algo definitivo sobre o jornalismo: a prioridade de fontes fala muito sobre o caráter do repórter. No lugar onde o ancião apontou, o líder Maruzan Camoraí ainda me revelou os vestígios da violência. 'Este é o sangue que nosso parente derramou lutando pela terra'”.<br /><br />Essa foi a história que marcou a carreira do santista, que há quatro anos trabalha com a causa indígena. Ela foi usada pelo Ministério Público como acusação contra o Estado brasileiro na Organização dos Estados Americanos . “Imagine que três dias antes, a própria vítima havia denunciado à polícia e aos meios de comunicação que vinha sendo ameaçada de morte por capangas de um fazendeiro, que é político e invasor de suas terras. Entretanto, com a morte de Araújo, a primeira coisa que imprensa e policiais fizeram foram transformar as vítimas em criminosos. Então me pergunto: de que ponto e vista devo contar essa história e tantas outras semelhantes”.<br /><br />Trabalhar com a causa indígena exige um engajamento maior porque implica visitar aldeias que ficam isoladas das grandes cidades. Navarro mudou de cidade e trabalha no Conselho Indigenista Missionário, o CIMI. “O impacto da mudança é grande porque os índios têm uma forma de pensar o mundo completamente diferente. A sua percepção como jornalista muda em contato com eles. É uma questão que ultrapassa o entendimento, exige sentimento”.<br /><br />Não há muitos profissionais de imprensa trabalhando com índios. “Nos três primeiros anos, era editor do Poranti, eu fiquei muito preocupado com o fato de ser conhecido como o ‘Cristiano dos índios’. Agora penso que não há nada errado em ter um estigma que me identifique porque eu acredito nessa causa, eu trabalho para mudar alguma coisa”.<br /><br /><strong>Espaço</strong><br /><br />O repórter é contundente ao afirmar que o jornalismo que faz não tem espaço nos grandes meios de comunicação. “Não é interessante que se paute a causa indígena para as empresas, que são anunciantes. Eu faço matérias que não têm grande circulação. Uso a Internet para ajudar a difundir”. A questão vai além por causa do problema com a terra. “As multinacionais querem a terra indígena para plantar pinheiros e os fazendeiros soja”.<br />O público que tem acesso as informações que Navarro produz é bem restrito. “Quem lê são formadores de opinião, quem se interessa ou tem aproximação pela causa, estudantes, antropólogos e religiosos”.<br /><br /><strong>Deturpação</strong><br /><br />Outro problema enfrentado pelo jornalista é o preconceito com o índio. “Quando uso um índio como fonte percebo a indiferença das pessoas, elas dão mais credibilidade para outras fontes”.<br />Existe, também, a deturpação cultural do índio. “As pessoas não compreendem o que é o índio. Elas perguntam as coisas mais absurdas sobre eles para mim”. Há, ainda, a deturpação por interesse latifundiário. O índio tem um histórico de luta pela terra desde o inicio do Brasil. “O índio como movimento social, que luta pela terra que é um direito garantido pela constituição, passa a ser inimigo, não só dos fazendeiros. O índio só quer a terra dele, não quer poder nem acumular riquezas”.<br /><br />Essa deturpação prejudica a sociedade no entendimento dos fatos, já que quando os índios tomam alguma atitude violenta, não é noticiado o que os levaram àquele ato. “O nosso jornalismo não contextualiza historicamente os fatos. Ele noticia que os cintalargas matou os garimpeiros. Porém não conta que eles tentaram afastar pacificamente os invasores de suas terras durante anos e não conseguiram. Até que tomaram uma atitude drástica”. Não foi noticiado em lugar nenhum a devastação desse povo. “Há 30 anos, os cintalargas eram 5 mil e hoje em dia são mil índios, mesmo eles se reproduzindo muito. A mídia não mostra que foram massacrados”.<br /><br />O atual projeto de Navarro é formar comunicadores populares nas aldeias Guaranis, nos quatro países: Bolívia, Argentina, Brasil e Paraguai. “Antes cinco porque no Uruguai todos os índios Guaranis foram exterminados”. O objetivo é fortalecer a comunicação desses povos, já que a comunicação é um ponto da articulação política, e restabelecer a luta pelos direitos dos povos. “Entregamos um cartilha chamada Tem Aldeia na Política para os líderes, que fazem estudos junto com as comunidades”. A cartilha contém informações sobre política, como funcionam os partidos e qual a participação dos povos nesses processos. “E, é claro, o papel dos meios de comunicação nisso tudo”.<br /><br /><strong>Começo</strong><br /><br />O jornalista, que se formou na UNISANTA, afirma que seu engajamento social começou ao decidir por essa profissão. "Escolhi jornalismo porque achava que tinha uma função de trabalho relevante para a sociedade, com o papel político claro de pautar as discussões do dia-a-dia das pessoas”. Durante a universidade, Navarro se aproximou do tema com leituras na área, por meio do movimento estudantil e pelo tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso, que foi sobre Movimentos de Moradias em Santos. “Quando me formei estava desiludido com o jornalismo e não via perspectiva de trabalho. Minha visão mudou quando fui convidado pelo Renato Rovai para cobrir o Fórum Social Mundial de 2002.<br />Depois dessa cobertura o santista viu a possibilidade de trabalhar com o social dentro do jornalismo. “Vi pessoas do mundo inteiro que trabalham com comunicação alternativa, que tem uma perspectiva diferente das grandes redações”. Navarro também colaborou com a revista Caros Amigos, trabalhou na Sem Fronteiras e no Jornal Brasil de Fato.Unknownnoreply@blogger.com2